quinta-feira, 29 de junho de 2006

Paixão de Carnaval parte I

Romances, paixões sexo amor por conseqüência seqüências de traições de desejos de vinganças e erros. Principalmente de erros, tragédias choro arrependimento.
Seqüências de filmes em que não gostaríamos de viver.
Como não escrever algo que nos tenha atingido, o personagem em que criamos nasce de algo em que nós vivemos ou que alguém vive – seja nos sonhos seja na realidade – putz! O ato de viver é difícil de assumir, requer paciência quando na verdade somos ansiosos, corruptos e umas bombas prestes a explodir e destruir o que está ao nosso redor. Por isso há pessoas que matam, que se isolam, que se tornam submissas, ao mundo ao marido aos pais, o que recomendo é que as merdas que acabam acontecendo, você ao menos tente transforma-las em um dito poético, fuga poética, uma merda poética. Rio agora, mesmo assim, por mais que este texto seja lindíssimo ninguém pode subornar o tempo e voltar uns dias atrás. Silencio por trás de todo engajamento poético.
Somos irresponsáveis. Viver a vida é de todo um ato de irresponsabilidade.
Se ele não me ligar ... o que será de mim? Eu que me apaixonei a ver aquele homem se aproximar no meio da multidão. Ao nosso redor pessoas feias, ridículas e bêbadas. Plena terça-feira de carnaval da domingos Olympio. Os nossos olhares se atraem no agora. A barba dele me atraiu no ato. Sou louca por barbas. Nos cruzamos e em cinco minutos eu já sabia o nome dele, em dez já tinha me beijado e meia hora estava na minha casa, na cadeira onde escrevo agora me comendo, carnaval é assim mesmo. Ele tirou das cinzas um sentimento que eu nunca sentira antes, hehehe eu sei é contraditório, ele demonstrou ter uma paixão recíproca. Ele me beijava com o mesmo afinco que eu o beijava, foi a primeira vez em que vi senti isso. Não acontecera antes na primeira vez com ninguém. Esta tal reciprocidade. De tamanha envergadura que até o meu batom vermelho fogo-sedutor ele tirou. Éramos o típico casal de carnaval, apaixonados, românticos e loucos, irresponsáveis. A nossa noite contada por mil diretores. “It’s my man.”
Transamos e como transamos. Ele parecia conhecer o meu corpo e mesmo assim o elogiava. Descobria curvas que nenhum idiota conseguira, tirara um trauma de um dia. Sacanas que vem transar só por transar, como se fossemos mercadoria, aí vem e dizem umas merdas como se fossemos gostar:
- ah! Toma, vai, vai bem gostosinho... Ah toma, vai, bem gostosinha.
Não é ridículo? Esta troca de gêneros, como ele gemia, que raiva que eu sinto! Ainda bem que o K. tirou-me este trauma de forma maravilhosa, mágica, de ouvir sininhos e ver passarinhos verdes, muitos e brilhantes. Sinto, cara leitora, que se você tenha gostado do que foi dito ali em cima, só posso dizer que cada um tenha um gosto peculiar, que o K. falou coisas mil vezes mais sensacionais não precisando ser intelectualóide e blá blá blá, que o K. é perfeito e por mais que eu tenha repetido o dia todo para todos os meus amigos, não canso de pensar nele e já sofro antecipadamente à la Florbela Espanca.
Amar é um risco.
É uma ferida que dói sem saber. Tento me lembrar de Camões. Existe então amor à primeira vista? Creio que sim.
Tentem imaginar: chego à avenida domingos Olympio sozinha, já na expectativa de aquilo ser uma merda, olho ao meu redor só vejo pessoas feias e bêbadas e andando em frente percebo que ele se aproxima, lindo, estranho, diferente de tudo do que este ao redor, levemente bêbado. Nos cruzamos, nos viramos e eu me aproximo dele, ele diz que parece ter me visto no Noise. Digo a ele que somos meio diferentes do comum. Na verdade a primeira coisa que eu disse foi: “é carnaval”. Ele afirmou com a cabeça, perguntou se eu estava sozinha, disse que sim e ele me levou, até seus amigos, que eu já conhecia. Só não o conhecia. Os amigos dele eu conhecia e os meus ele tb conhecia. Parecia que um diretor de cinema, que poderia ser o Fellini ou Bertolucci estava comandando a noite.
Não demorou muito tempo para darmos uma volta, nesta volta um intervalo e nesta pausa, no meio da multidão um beijo, french kiss. Ouvíamos buzina, pessoas olhando, policias reparavam, taxistas também, como ele abraça forte, poderia escrever até enjoar e não conseguiria parar, só pensando no que ele pensaria ao ler este texto. A beleza dele. O beijo. Estou me afogando num poço de ilusão chamado ... advinha? Algo tão intenso e perturbador. Não consigo nem estudar e pensar que próximo ano vou fazer a mesma faculdade que ele. Escrevo no meu caderno: j’aime K. Toujours. Fico agora ouvindo boleros e músicas tristes. Ele não me ligou. Ainda é cedo para dizer algo.
As palavras dele ao meu ouvido. Não consigo esquecer.
Não quero escrever que merdas acontecem e que merdas são essas. Não quero ler este texto novamente e ler as merdas.
Refugio-me no cinema, no impossível, no acaso, que tão cedo vai presentear-me de tão inesperado presente. E prazeroso também.
Se nos próximos dias ele me ligar deixarei como o texto esta, intacto silencioso misterioso. Sem futuro. Contudo, antes sem perceber o valor que a frase tinha, assumo: estou perdidamente apaixonada.

sexta-feira, 23 de junho de 2006

cronicas de Esbórnia - parte II

Eu venci a cocaína.
Apelo sempre para a escrita quando me sinto deslocada, nada como colegas de gaiatices. Eles trazem álcool, companhia, palavras tolas e alegres e aquele leve ar de euforia. Não estou triste, apenas estagnada e ainda me veio a seguinte situação:
Machado de Assis no seu livro Esaú e Jacó traz num dos capítulos uma espécie de advinha, ela chega a prever a verdade, parcialmente, mas não revela ao cliente. Como prever nossos dias? Ate certo ponto fiquei mexida no porquê dos meus dias estarem sendo tão previsíveis.
Uma festa de aniversário, numa bela cobertura, com algo de demoníaco e dionisíaco. Pessoas rindo, bebendo, ouvindo não sei lá o que. Em certa altura tudo parece parar e a minha vontade é de ficar sentada vendo as pessoas se divertirem, entretanto rufam os tambores, mas rufem mesmo!
Chega aquele ar de euforia. De boca em boca uma fumaça, de blusa em blusa um cheiro indescritível, os tambores começam a rufar para todos e só quem sente é quem sabe o que é, simplesmente o que é.
Quando se consegue voar até o céu – às vezes tão longínquo – acontece da queda ser bastante grande e bater aquele desanimo, putz como é chato ficar pensando ao léu e não acontecer nada, aí – senhoras e senhores – resolvi apelar ao supremo tribunal do prazer. Cocaína.
A primeira sensação é que tudo ao redor te ama e te venera. Já tinha cheirado umas duas vezes, mas nesta vez o pó era bom e a companhia melhor ainda. Depois vem aquela instigação para falar com o mundo e sobre tudo, vem uma vontade louca de sexo drogas rock’n’roll.
Cena de filme: acende-se um cigarro para sentir o prazer destruir e tornar todo o seu organismo um caos, quem gosta de viver o caos tem que fazer uma escolha, aceitar os vícios e o caos, no meu caso a questão da grana sempre foi difícil obter e por isso mesmo não vejo nenhuma destruição financeira, apenas ocorre o seguinte enquanto algumas pessoas gastam dinheiro em carros, roupas de marca e todo esse consumo capitalista – nós (as pessoas viciadas em drogas) – preferimos gastar com drogas, álcool, cigarro e etc. Eu pelo menos só gasto com cinema, transporte e drogas, algo mais serio como livros, matriculas da vida eu junto sei lá não vem a caso, não quero fazer apologias. Enfim, cada um defini o que seria viver a vida, todos nós temos os nossos soma, alguns o soma é deus, para outros é a cocaína, para mim o ato de viver despreocupadamente sem pensar em convenções, costumes, regras, horário e preconceitos, conviver com amigos do meu naipe, que gostam de mim e que são minha segunda família é o meu soma. As drogas são apenas um tempero, como a pimenta. É aí que me sinto livre, livre para ser alcoólatra social e fazer sexo.
Depois da sessão cocaína tudo ocorreu como num script, uma menina vem me abraça me beija me consome e tudo tão intenso e renovador, comecei a sentir que minha alma estava se recarregando no exato instante que a menina me levou para aquela pequena salinha. Beijos, toques e desespero.
Quando saí para fumar um cigarro só conseguia repetir: como sexo é bom como cocaína é bom, sexo bom, cocaína boa, bom boa. Ainda beijei muito mais, todos numa sintonia.
O sol começa aparecer nublado. Sentei-me num canto que ninguém pudesse enxergar o meu cansaço, o que na verdade foi justamente o contrario, chegaram pessoas, sentando ao meu lado, conversando e dizendo besteiras do tipo quem bebeu mais, quem se passou mundial. Houve um dado momento que fiquei sozinha com um rapaz. O conhecia de vista, parecia ser um playboy de bom gosto, não me interessei por ele, por acha-lo um pouco fútil. Enfim, só sei que fiquei afim dele e disse na cara dele. Ele como fiel seguidor da boa moral e dos bons costumes me levou na desculpa que iria me dar uma carona. Velho papo da carona...
Logo após de ele ter deixado um amigo nos beijamos, fumamos um e nos preparamos para o tal sexo matinal. Ele me levou numa praia esplendida de linda, conquistou-me com seu ar de amante moreno, sensual até na fala, na praia ele colocou um cd que me emocionou: a trilha sonora do Pulp Fiction, vocês não vão acreditar como eu gozei. O tal amante me pegava, me enforcava e arranhava meu pescoço, queixo com sua barba rala. Passava sua mão em minha coxa deliciado em ver que aquilo era real, eu olhava para o mar, ouvia as musicas, diálogos, eu masturbava aquele animal com grande satisfação – pois o seu pênis era grande e muito grosso – seus beijos me engoliam e me apaixonei por ele.
O que tem a ver o título com esta crônica? É que o tal amante tinha cheirado também. Há varias lendas acerca de que a cocaína deixa o cara de pau mole... Pois bem sabemos agora que eu venci a cocaína.

quarta-feira, 21 de junho de 2006

Cronicas de Esbornia.

Faço um manifesto, a favor da loucura, de poucas palavras, a favor do desfavor, tudo com pouco sentido, a favor do feio e do grotesco, dos filmes de terror B, da ressaca moral e tudo o mais. Um manifesto que não é contra nada, apenas contra o que é feito contra a vontade. E como esse manifesto tem poucas palavras não posso me demorar mais, porque não quero idéias quero lembranças, nem passado nem futuro o estagnado hoje.


Livremente inspirado em Antonia
Sozinha em casa abro as janelas, por sorte o sol está agradável, acendo o cigarro, escutando beattles, olho para os prédios ao lado e penso se um dia os moradores não conseguiriam ver-me só de calcinhas tomando sol. Como agora.
Olho para a sala, não sei que fixação por flores minha mãe tem, que os quadros da sala são todos de flores, um ganhado em um bingo e outro ganhado por uma amiga. Vejo o quadro de fotos e me vejo recém-nascida, pequena, com meus tios e varias varias outras fotos. Fotos que mostram o quanto somos uma família não convencional. Sem maridos.
Alguns possuem a sorte de nascer numa família que lhe abre portas. A minha bisavó sempre me pareceu uma mulher meio enxerida com um pouco de hipócrita, há uma lenda que ela casou grávida dizem os mais fofoqueiros que era de outro, ela morreu dizendo que era do meu bisavô, mas não criou a filha. Ela, segundo os meus pensamentos de infância, foi a primeira mulher a se separar em Parajuru – cidade natal – teve sua segunda filha, minha avó, esta cuidou dos irmãos e adquiriu um pensamento muito liberal para a época, graças a livre intenção de ler e mudar de vida. Vovó sempre me diz que fugiu com o meu avô e depois se viu obrigada a casar, a partir daí quando teve suas filhas as ensinou como o machismo imperava ou ainda impera na nossa sociedade e tanto é que nem minha mãe e nem minha tia se casaram. Já os homens da minha família... São meio sentimentais demais, impulsivos e corajosos, eles precisam de uma revolução.
É verdade que às vezes pareço por demais feminista. Detesto dizer, mas eu sofri o machismo em doses cavalares, o rock’n’roll me fez encarar o machismo com coragem, happenings e o velho lema.
A minha família não é intelectual, possui aquele socialismo corrompido pelo capitalismo, ajudam onde podem, não deixam de ser consumistas porque acham que é para o bem, minha avó nunca leu escritores libertadores – isso é que me emociona – defende Cervantes, contudo acha que filosofia é coisa de insanos, no fundo talvez seja. Apesar de todos os defeitos que uma família pode ter, creio que nenhuma família curte um carnaval melhor do que a minha. É genéticos o alcoolismo e a inteligência. Pena que a presença paterna nem sempre seja presente. Daí a importância das mulheres. A força que elas têm e a capacidade de enxergarem muito mais que um palmo a frente delas. Eu não vi a pobreza que um dia elas sofreram, mas a força daqueles dias de roça com certeza eu tenho no meu sangue e se eu tenho orgulho porque não escrever?
Talvez pelos os homens sempre mostrarem que o que eles querem da mulher fossem apenas aquelas servidão antiga eu e minha prima tenhamos pensado por quê não amar as mulheres?
Poucas pessoas entendem porque com tão pouca idade possui uma maturidade que eu não devia ter, mas quem tem uma infância como a minha?! Com vozes tão altas e claras, o mosquito da liberdade me picou muito cedo, a leitura só fez empurrar a minha imaginação ao longe.
Como quando quis perder a virgindade. Não acreditava que uma pessoa podia amar sem antes conhecer o sexo da pessoa, tinha então quatorze anos e estava nas minhas férias de julho, queria saber como era afinal o sexo. Por quê que havia tanta especulação e proibição das mulheres e hipocrisia, numa bela noite combinei com um rapaz - parecia-me o mais capaz de me abrir a porta do que seria a paixão - que ele aparecesse no meu portão de madrugada. Sabe como é, quatorze anos eu não sabia direito o significado do termo namoro fidelidade, para mim aquilo combinado era apenas um encontro, obvio que não foi o único, enfim ele apareceu e no famoso quarto ao lado da piscina eu perdi a virgindade, não sangrou e não doeu muito, as minhas conclusões foram: as pessoas falam de mais e fazem de menos. Eu não o amei, mas naquelas férias de julho ficamos o mês todo, eu achava que era apaixonada por ele. Hoje percebo que não. A figura dele para mim era de um jovem rebelde que não tava nem aí para as convenções e ele ia para a Turquia, no fundo foi o certo.
Não me esqueço do dia em que fugi para ir a praia com ele, à noite, ele colocou a blusa na areia todo delicado, acho que era amarela e eu transei pela segunda vez olhando a lua cheia, ouvindo o mar e ah! Vai, ele era bem dotado. As amigas que eu tinha eram tão legais livres independentes da boca do povo, éramos um trio considerado quase lésbico, na época não me interessei por nenhuma. Quebrávamos limites, porque tínhamos uma verdadeira amizade, independentes financeiramente e botando sexo na cabeça. Uma cuidava da outra.
Como eu gostava de quebrar a cara dos homens, quando foi no final daquele mês houve uma convenção de capoeira, holandeses e eu acabei ficando com um, a primeira vez que vi um homem gozar foi com esse holandês, achei que fui muito boa, segundo homem da minha vida depois de quinze minutos ele já tava gozando! Nesse momento me vi predestinada, não seria normal, não me casaria como uma submissa. Como traí o meu primeiro homem? Não sei. Na época eu não sabia ao certo o significado das palavras.
A partir daí o homem foi uma imagem de prazer para mim, paixão, intensidade, carpe diem!
Penso que o único homem pelo qual me apaixonei sumiu no universo. E quem sabe um dia ainda descubra o significado da palavra amor...