quarta-feira, 21 de junho de 2006

Cronicas de Esbornia.

Faço um manifesto, a favor da loucura, de poucas palavras, a favor do desfavor, tudo com pouco sentido, a favor do feio e do grotesco, dos filmes de terror B, da ressaca moral e tudo o mais. Um manifesto que não é contra nada, apenas contra o que é feito contra a vontade. E como esse manifesto tem poucas palavras não posso me demorar mais, porque não quero idéias quero lembranças, nem passado nem futuro o estagnado hoje.


Livremente inspirado em Antonia
Sozinha em casa abro as janelas, por sorte o sol está agradável, acendo o cigarro, escutando beattles, olho para os prédios ao lado e penso se um dia os moradores não conseguiriam ver-me só de calcinhas tomando sol. Como agora.
Olho para a sala, não sei que fixação por flores minha mãe tem, que os quadros da sala são todos de flores, um ganhado em um bingo e outro ganhado por uma amiga. Vejo o quadro de fotos e me vejo recém-nascida, pequena, com meus tios e varias varias outras fotos. Fotos que mostram o quanto somos uma família não convencional. Sem maridos.
Alguns possuem a sorte de nascer numa família que lhe abre portas. A minha bisavó sempre me pareceu uma mulher meio enxerida com um pouco de hipócrita, há uma lenda que ela casou grávida dizem os mais fofoqueiros que era de outro, ela morreu dizendo que era do meu bisavô, mas não criou a filha. Ela, segundo os meus pensamentos de infância, foi a primeira mulher a se separar em Parajuru – cidade natal – teve sua segunda filha, minha avó, esta cuidou dos irmãos e adquiriu um pensamento muito liberal para a época, graças a livre intenção de ler e mudar de vida. Vovó sempre me diz que fugiu com o meu avô e depois se viu obrigada a casar, a partir daí quando teve suas filhas as ensinou como o machismo imperava ou ainda impera na nossa sociedade e tanto é que nem minha mãe e nem minha tia se casaram. Já os homens da minha família... São meio sentimentais demais, impulsivos e corajosos, eles precisam de uma revolução.
É verdade que às vezes pareço por demais feminista. Detesto dizer, mas eu sofri o machismo em doses cavalares, o rock’n’roll me fez encarar o machismo com coragem, happenings e o velho lema.
A minha família não é intelectual, possui aquele socialismo corrompido pelo capitalismo, ajudam onde podem, não deixam de ser consumistas porque acham que é para o bem, minha avó nunca leu escritores libertadores – isso é que me emociona – defende Cervantes, contudo acha que filosofia é coisa de insanos, no fundo talvez seja. Apesar de todos os defeitos que uma família pode ter, creio que nenhuma família curte um carnaval melhor do que a minha. É genéticos o alcoolismo e a inteligência. Pena que a presença paterna nem sempre seja presente. Daí a importância das mulheres. A força que elas têm e a capacidade de enxergarem muito mais que um palmo a frente delas. Eu não vi a pobreza que um dia elas sofreram, mas a força daqueles dias de roça com certeza eu tenho no meu sangue e se eu tenho orgulho porque não escrever?
Talvez pelos os homens sempre mostrarem que o que eles querem da mulher fossem apenas aquelas servidão antiga eu e minha prima tenhamos pensado por quê não amar as mulheres?
Poucas pessoas entendem porque com tão pouca idade possui uma maturidade que eu não devia ter, mas quem tem uma infância como a minha?! Com vozes tão altas e claras, o mosquito da liberdade me picou muito cedo, a leitura só fez empurrar a minha imaginação ao longe.
Como quando quis perder a virgindade. Não acreditava que uma pessoa podia amar sem antes conhecer o sexo da pessoa, tinha então quatorze anos e estava nas minhas férias de julho, queria saber como era afinal o sexo. Por quê que havia tanta especulação e proibição das mulheres e hipocrisia, numa bela noite combinei com um rapaz - parecia-me o mais capaz de me abrir a porta do que seria a paixão - que ele aparecesse no meu portão de madrugada. Sabe como é, quatorze anos eu não sabia direito o significado do termo namoro fidelidade, para mim aquilo combinado era apenas um encontro, obvio que não foi o único, enfim ele apareceu e no famoso quarto ao lado da piscina eu perdi a virgindade, não sangrou e não doeu muito, as minhas conclusões foram: as pessoas falam de mais e fazem de menos. Eu não o amei, mas naquelas férias de julho ficamos o mês todo, eu achava que era apaixonada por ele. Hoje percebo que não. A figura dele para mim era de um jovem rebelde que não tava nem aí para as convenções e ele ia para a Turquia, no fundo foi o certo.
Não me esqueço do dia em que fugi para ir a praia com ele, à noite, ele colocou a blusa na areia todo delicado, acho que era amarela e eu transei pela segunda vez olhando a lua cheia, ouvindo o mar e ah! Vai, ele era bem dotado. As amigas que eu tinha eram tão legais livres independentes da boca do povo, éramos um trio considerado quase lésbico, na época não me interessei por nenhuma. Quebrávamos limites, porque tínhamos uma verdadeira amizade, independentes financeiramente e botando sexo na cabeça. Uma cuidava da outra.
Como eu gostava de quebrar a cara dos homens, quando foi no final daquele mês houve uma convenção de capoeira, holandeses e eu acabei ficando com um, a primeira vez que vi um homem gozar foi com esse holandês, achei que fui muito boa, segundo homem da minha vida depois de quinze minutos ele já tava gozando! Nesse momento me vi predestinada, não seria normal, não me casaria como uma submissa. Como traí o meu primeiro homem? Não sei. Na época eu não sabia ao certo o significado das palavras.
A partir daí o homem foi uma imagem de prazer para mim, paixão, intensidade, carpe diem!
Penso que o único homem pelo qual me apaixonei sumiu no universo. E quem sabe um dia ainda descubra o significado da palavra amor...

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