sábado, 29 de julho de 2006

maldita geni

Em mais uma noite na Praia de Iracema, em mais uma noite de bebedeira costumeira de euforia. Dentro desta noite está sozinha, está triste, está confrontando sua própria liberdade com o moralismo que advem de fora. Se tem uma coisa que o ser humano se preocupa é com a imagem alheia, a imagem que nós carregamos pela sociedade. Já decidi, vou posar de santa, maquiavelicamente serei contra o aborto, transar? O que é isso... E que morra os beatniks!!!!
Tentarei, juro como tentarei não chamar atenção com as minhas gargalhadas de alegria e com os meus protestos gritantes aos amigos.
Tratarei a vida com mais seriedade, materializar os meus sonhos...
EU NÃO CONSIGO. Podem dizer que eu sou uma vadia, sem vergonha, louca, absurda, loser, em português fracassado, mas eu não consigo não fazer o que eu não quero não consigo acreditar nesse levianismo – que pra mim é mais uma forma de moralismo – eu acredito na liberdade de viver, de se apaixonar por quem quiser e por quanto tempo quiser.
Eu não tenho freios, eu tenho amigos e acredito que se pode amar de corpo e alma e uns goles a mais de vinho.
Tive até uma inocência de acreditar que o mundo poderia ser tão livre quanto o meu ser ao ponto de sentir o fogo de viver desde pequeno. Mas não é assim. As pessoas são cruéis, interesseiras, malvadas, desleais e não são amigos.
E por fim eu me apaixonei, pela segunda vez esse ano eu cometi o mesmo erro, inventei de dormir com ele, o seu abraço, o seu carinho, as suas palavras de homem feito. Antes, num show de rock qualquer, ele colocava a mão nas minhas costas indicando para onde íamos. Como sou tola! Como pude acreditar em palavras tão belas e sutilezas. Dormir com ele foi ao mesmo tempo um nascimento e um suicídio.
Por fim o tédio me atingiu. Quem sabe eu seja mesmo uma vadia e ainda não tenha me tocado. Ou quem sabe eu seja uma heroína, uma messias da libertinagem. Ou uma poetisa fracassada, a qual ninguem quer.

Mora na filosofia
pra quê rimar amor e dor.
Se seu corpo ficasse marcado por lábios ou maos carinhosas,
eu saberia, ...
nao vou me preocupar em ver, seu caso nao é de ver pra crer...
tá na cara!

quarta-feira, 26 de julho de 2006

Comentário sobre Henry e June


Este comentário é para os que ainda sonham em ser vadios, ou os que são e pedem sempre socorro aos pais, ou aos amigos, não importa. Vadio, por vadio, sem se importar com a morte, política, o carro novo que saiu televisão e etc. Palavras feias que pelo seu significado já dá certa ânsia de ver que tantas pessoas esquecem de viver e se preocupam com o dinheiro e o dinheiro é que move essa ânsia, a televisão e o carro novos a bebida o cigarro e muito mais. Contudo defendo o vadio como Henry Miller, aquele que no filme Henry e June diz: “Quem consegue entender, quem consegue ler, escrever está livre.”
O que ocorre é a tal angústia em enfrentar toda a grandeza do Henry devido ao seu estilo vagabundo e libertador. Mas me dá um medo, até porque ele é um filho da puta em todos os momentos e mesmo assim ainda me vejo completamente nele, na sua intensidade de dizer: “eu te amo” para uma puta. Porque eu também faço isso...
O caso é que pensar em sexo às vezes me parece como pensar em roubar, uma hora você é pego e suas descrições são ditas pelo microfone e você finge que vai comprar cigarro, mas na verdade você foge, em busca de uma nova aventura, um novo roubo. E mesmo assim sente-se perseguido, como que a qualquer momento você encontrará aqueles olhos, aquela pessoa a qual você roubou o que há mais importante na vida dela. O contato íntimo, o amor, a buceta, ou apenas um livro de R$ 14,90.
E é no Henry Miller que eu vejo um ladrão de eximia capacidade, tanto na fuga quanto na hora de roubar e mesmo assim o canalha custa em se espelhar em mim, semelhanças indiscretas e que sou forçada a colocar aqui como uma confissão a um padre. Castigo? Com certeza todos os vadios e ladrões têm.
E a Annais Nin consegue romantizar toda essa vida de aventuras, ela poetiza como uma doce francesa com aquele sotaque infantil e curiosamente infantil em busca de novas aventuras, com ela não parece um roubo, parece que tudo aquilo era seu desde o sempre, naturalmente seu e que amanha não é mais. Com ela mais parece um romance água com açúcar, entretanto uma água com açúcar para os acostumados ao velho safado que é o Bukowski.
Para tanto aos tímidos, ou moralistas, ou os que preferem praticar a ler literatura erótica.
Annais Nin é uma ótima introdução a este mundo tão escandalizado.
E o que é promiscuidade? Amor próprio? Transar por transar? E isso existe?
Todas as transas são transas com historietas, nem sempre boas, mas com personagens, com vida! E diminuir uma pessoa porque ela gosta de transar é diminuir um dos principais atos dos animais. Até as plantas trepam. Se gozam eu não sei.
Se o sexo está divulgado, escandalizado, vulgarizado é porque ainda não estamos num mundo tão livre assim...
É hora de fugir, antes que a fogueira nos atinja.


quarta-feira, 19 de julho de 2006

Como ir para o inferno sem ficar preocupado.

Manual de Sexo da UNIVERSAL.
Posição de quatro - É uma das posições mais humilhantes para a mulher, pois
ela fica prostrada como um animal enquanto seu parceiro ajoelhado a penetra.
Animais são seres que não possuem espírito, então o homem que faz o
cachorrinho com sua parceira, fica com sua alma amaldiçoada e fétida.
Sexo Oral - O prazer de levar um órgão sexual a boca é condenado pelas leis
divinas. A boca foi feita para falar e ingerir alimentos e a língua para
apreciar os sabores. A mulher engolindo o sêmen não vai ter filhos. E o
homem somente sentirá dores musculares na língua ao sugar a vagina de sua
parceira.
Sexo Anal (Sodomia) - O ânus é sujo, fétido e possui em suas paredes milhões
de bactérias. É o esgoto propriamente dito. No esgoto só existe ratos,
baratas e mendigos. A pessoa que sodomisa ou é sodomisada ela se iguala a um
rato pestilento. Seu espírito permanece imundo e amaldiçoado. Mas o pior é
quando o ato é homossexual, pois o passaporte dessa infeliz criatura já está
carimbado nos confins do inferno.
Posição Recomendada - O homem e a mulher devem lavar suas partes com 1 litro de água corrente misturado com uma colher de vinagre e outra de sal grosso.Após isso, a mulher deve abrir as pernas e esperar o membro enrijecido do seu parceiro para iniciar a penetração. O homem após penetrar a mulher, não
deve encostar seu peito nos seios dela, deve manter uma distância pois a
fêmea deve estar fêmea deve estar rezando aos santos para que seu óvulo esteja sadio ao encontrar o espermatozóide. Depois do ato sexual, os dois devem rezar, pedindo perdão pelo prazer proibido do orgasmo. Como penitência, o açoite com vara de bambu é aceite como forma de purificação.

quarta-feira, 12 de julho de 2006

Cronicas de Esbornia. Parte V

Duas sextas feiras, normais até, uma deixada em branco no diário e outra escrita até a última linha, uma treze de fevereiro outra 13 de agosto. Em uma sexta vivo o esplendor de minha solidão, em outra comemoro companhia de bons amigos e bons amantes... Em uma sexta me deito na cama e penso: ‘como seria bom se alguém me acompanhasse hoje numa busca por um prazer inesquecível, que estivéssemos sentados na sala, eu, ele e amigos comemorando o fato de existirmos’.Em outra eu realmente vivo isso.
Treze de fevereiro:
Acordo e vou para o colégio. Estou ansiosa, aliás, muito ansiosa. E a minha ansiedade não esta no colégio, com quem não posso compartilhar esses sentimentos que são tão íntimos e egoístas. Professores novos, aulas novas e o velho sentimento de já estar de saco cheio de tudo isso, uma morgância muito depressiva. Mas hoje estou feliz, ansiosa, porque falta poucos dias para o carnaval chegar... E o desejo de ver um garoto que vai também, de passar quatro dias dormindo na mesma casa que ele. E é com pensamentos sobre o menino e o carnaval, o que me espera, foi o que me ocupou nessa sexta. É porque depois da escola eu dormi, sonhando coisas que nada tinham a ver com o esperado, esperava sonhar algo que predisse o que vai acontecer nesse carnaval, enfim é o acontecimento que mais me deixou animada nesses últimos meses, à noite minha mãe sai para mais uma festa e eu fico só, só com os meus pensamentos, deitada na cama, imaginando como seria minha noite.
Alguém bate no portão, eu me assusto e vejo que é uma garota, ela fala: - acorda raísa, o mundo está aí para você viver, enorme, perigoso e aberto para você. Vamos curtir um pouco desse tempo que é tão curto, vamos ouvir música!!! -, e eu a deixo entrar em casa com um monte de gente, eles fazem silêncio, mas me deixou muito feliz com tal surpresa e com a conversa sobre tudo, filosofia, questões como o amor, a vida e os nossos problemas que são tão pequeninos. Passamos a noite bebendo, alguns ocupavam os quartos e depois voltavam mais satisfeitos e quando já se passava das quatro horas, todos se vão, a menina quando se despede fala: - paciência, é isso que te aconselho, mas espere, não se precipite quando já não contar com ninguém para se abrir, com o tempo aparecerá amigos e diversão, o mundo já se abriu, não se entristeça...
Mas aquilo tudo não passava de um sonho, acordei como se tivesse ouvido um grito, um clamor para que eu acorde e, realmente, não me entristeça, perante a indiferença. Vi que ainda eram nove horas, fui num bar, comprei uma cerva e a bebi olhando para as estrelas no meu quintal, foi engraçado a partir daí eu sempre fazia isso quando a minha mãe saia, depois que bebi peguei um caderno e comecei a escrever tudo o que vinha a minha cabeça. Ás vezes só vinham poesias escuras, tristes e melancólicas, por sua vez quando eu escrevia histórias imaginando festas em casas de praia, ou acampando, vivendo tudo o que não podia viver ali. Poesias falando de amantes e amores que nunca eu tinha vivido... E, para mim, o dia 13 de fevereiro só foi isso, um sonho, que só aumentou a minha ansiedade pelo carnaval, era a minha esperança de ver parte desse mundo tão aberto que tava agora.
Treze de agosto:
Acordo, lembro-me, que hoje eu tenho prova de segunda chamada e logo de química, meu dia começou bem... Já vai fazer uma semana que mudei de turma e me encontro com pessoas novas e que são agradáveis. Foi difícil e rápida a decisão de mudar de turma, afinal eu tinha encontrado pessoas que queriam a minha presença e eu estou vivendo essa época muito bem, de muita produtividade. Rapidamente o dia termina e à tarde se aproxima, ninguém me liga, tento falar com amigos meus – que eu fiz ao longo desses quatro meses -, mas o celular está desligado, ou toca até desligar, todos estão ocupados de certa forma, vou fazer a prova imaginando que seria mais uma sexta feira treze que eu não faria nada. Mas por um impulso, quando já tinha terminado a prova ligo o meu celular, depois de uns segundos o louco liga, rejeito a ligação dele, me apresso em entregar a prova e quando to saindo da sala liga de novo.
Era um menino que não tinha ficado nem três vezes.
O canalha perguntou se eu ia sair, blá blá blá, no final das contas perguntou se eu ia ficar sozinha em casa. Disse que sim. Minha mãe iria sair para mais uma festa. Marcamos de nove horas ele passar lá em casa.
Fazia tempo em que eu não ficava tão ansiosa. Como no dia 13 de fevereiro. Ele chegou, bolou um baseado e quando acendeu, aparece um amigo meu na porta. Ele entra, fuma com a gente, tinha trazido um vinho – supostamente, sabendo que eu estaria em casa sozinha, para ficar comigo... – bebemos o vinho, fumamos outro baseado, nessa altura do campeonato já tinha colocado um som para rolar, Manu Chao, rock’in’roll, até que deu 10h e o meu amigo foi embora. O canalha continuou no mesmo canto do sofá, a espreita de uma oportunidade de me beijar.
Ficamos fumando um cigarro, um olhando para o outro, a cada olhar um desejo, uma vontade de começar logo o que tínhamos planejado. Até que ele se levantou – por um momento pensei que ele tivesse se cansado e que iria embora –, mas não. Ele me chamou e eu fui até os braços dele, na verdade pulei em cima dele e ele apertou minha bunda com as duas mãos e o vigor de quem há muito esperava por aquilo. Carregou-me até o meu sagrado quarto, na parede me despiu e me beijou, enlouquecidamente, ansioso, a parede apenas o ajudava a pressionar ele contra mim, seu pênis rijo contra a minha coxa, não deixava escapatória, estava acontecendo aquilo! Tirou-me a calcinha e me chupou ali mesmo na parede. Abraçou-me de novo e fomos até a cama, transamos e quanto mais transamos a cama balançava e fazia barulho. Sussurrou no meu ouvido: não quer ir dormir na minha casa. Nem hesitei.
No carro o chupei, na época, a bem dizer da verdade, nem sabia direito o que era um pênis, quanto mais chupar um pênis. Mas ele gemia, gemia e era delicado, não se deixava corromper pelo prazer. Chegamos à casa dele.
Transamos, transamos e transamos. Na sala, no quarto. O canalha não me deixava parar de gozar. De certa forma ele me iniciou na arte milenar de satisfazer o amante. O seu puxar de cabelo, senti o meu clitóris vermelho e duro pela primeira vez, de tanto que ele chupava com prazer e vigor e violência e carinho. Será possível. Foi o que eu senti. Seu beijo não era romântico, mas era apaixonado pelo meu cheiro de sexo pueril. Como se ele soubesse que ainda era uma terra a ser desbravada, uma terra de pernas abertas e que só esperava o cara certo. O tal canalha conseguiu amanhecer e ainda transávamos loucamente.
- Sou sua escrava! Ah... Você ainda me quer mesmo assim?
E ele não parava de repetir quero e quanto quero mais não me conformo.
Gozávamos, fumávamos, transávamos, goza... fuma... transa... Até que ficamos abraçados acariciando um ao outro, masturbando ele e ele beliscando meu sexo, como quem diz ainda não acabou, meu pau ainda resiste a tua buceta quente e gorda. E lá ia de novo ele, mordiscar meu sexo, soprar e soprar até que ficasse vermelho e duro, meu clitóris inchado pela primeira vez. Os primeiros raios de sol entraram e a ultima transa. Papai e mamãe, submissão controle, fragilidade fraqueza, destreza sensualidade, gemido gemendo, o sono sonhando.
Tomei café com ele, fumamos o ultimo cigarro juntos e ele foi me deixar em casa. Era 7h da manha. Quando chegou em casa o canalha apenas sussurrou bom dia minha doce flor. Como um dom Juan safado e que eu adoro. Dormi bem aquela manha. Não me importo de nem saber o que ele faz da vida, porque sei o que ele faz melhor. O canalha.

segunda-feira, 3 de julho de 2006

bem, cronica de esbornia, parte IV. considero essa cronica um pouco infantil... mas acontece nas melhores familias...

Quando estamos sentados em um sofá que mais parece um palco, no centro uma lâmpada, daquelas de interrogatório e o sofá pequeno, no máximo três pessoas, algo aconchegante e um leve ar de teatro. Como dizia a tendência é que você interprete um interior seu que nem existe, ou é inconsciente. Vem o baque. Você está com seus amigos, sente aquela sensação de estar presente em algo que gosta, sente prazer. Vem um problema. De ordem sexual. Como sempre, nas minhas ultimas crônicas os problemas, a maioria vem de ordem sexual, ou é a família sexualmente reprimida, ou é os amigos que não entendem meu conceito de sexo, não só o ato – que pode parecer depois de um tempo tão mecânico quanto comer – o que é muito chato. Sim de sexo por cotidiano, amante, vinho, chocolate, filmes e mais sexo. Mais problemas de ordem sexual: fidelidade, como assim se eu desejo mais homens do que o normal, idiota é que pensa que todos nós seres humanos somos iguais, cada um tem sua receita – educação, genética e meio ambiente – e cada um tem mais uma infinidade de tipos. Tem gente que acaba não se apaixonando por ninguém e tem gente (como eu) que se apaixona, que no seu sangue a paixão é como raios atravessando arvores e queimando tudo ao redor num grande incêndio. A fidelidade é uma conseqüência não uma obrigação.
Você esta com homens legais, belos, não só no estereotipo, que parecem transar bem e endeusar qualquer mulher que se atreva a um beijo sagrado. Então a ordem natural das coisas faz com que você os deseje, queira prova-los para ver qual é. Por mais que seja interessante conversar uma hora você pensa em sexo. E tenha certeza disso: bem que eu não queria pensar em sexo, mas aí de repente me vejo imaginando o professor nu em um quarto comigo! Imagino o corpo, as silhuetas e as palavras que ele diz para turma, eu ouço no meu ouvido, podia ate sentir sua boca molhada não só na minha boca. Como isso poderia ocorrer, como pude pensar de forma tão repentina em sexo? Os desejos a gente não controla. E olha que eu nem sinto muita falta. (de desejar alguém).
Então como as mulheres se insinuam para os homens, como elas avisam: “olha, eu estou no cio, por favor, você poderia baixar as calças e saciar-me por meia hora...” é obvio que não é assim. Então qual é o segredo dos amantes?
Acabamos indo para o quarto mais uma noite para dormirmos pensando o quanto seria legal ter aquele pé nos aconchegando.
Imaginei uma nova situação.
Cinderela era pobre, camponesa, enteada de uma madrasta má, conhece o príncipe por acaso e vivendo um sonho vai para o baile, deixa a sapatilha à meia-noite e o príncipe busca por todo o povoado aquela sapatilha brilhante.
Qual seria a Cinderela do séc. XXI? Foi isso que imaginei.
Uma menina, solitária em suas idéias, considerada estranha, cujos pais são repressores, mesmo que estejamos em pleno séc. XXI sabemos muito bem que pais assim estão em extinção, entretanto os que têm são os piores. Desde pequena relegada ao papel de empregada, sempre tendo sonhos estranhos, como destruindo todas as pessoas que não gostava. Quando descobriu a musica do Radiohead, as lindas frases do Kafka, Dostoievski e um chamado de Nietzche, ela percebeu que não estava sozinha, que escritores como esses tinham muitos e estava apenas conhecendo os mais famosos, até porque por mais que você não tenha acesso a coisas que não sejam da moda vai aparecer um Kafka na biblioteca de sua escola brilhando e com um letreiro: “leia-me!” Interessou-se por política, filosofia, rock’n’roll. Seus pais achavam estranho, mas a menina lia, sinal de inteligência, a menina não saia de casa, sinal de segurança. Como sair de um calabouço como esse... O príncipe.
Uma noite, tinha especifica, de sete e 20 até às 9h. Era de historia. O ano mal começara e a aula era sobre a pré-história do homem. Que tem uma teoria de que o homem só tinha relações sexuais com a mulher de quatro e um belo dia uma mulher se recusou a fazer de quatro. Foram tantos dias de luta, contudo a força do homem conseguiu tomar a mulher, mas desta vez, a primeira vez, a posição feita foi papai e mamãe. O olhar, o profundo olhar entre duas pessoas que estão unidas pela a união de um pau e de uma boceta fez surgir o caralho do amor. A civilização, a instituição do casamento e o fim do incesto.



As aulas estavam-na sufocando. A aula terminando. Saindo de casa percebeu que tinha cinco reais e que poderia tomar uma cerveja, por que não? Nunca fizera isso. Sentada, sozinha, apareceu um homem, era seu professor de português. Ela sempre calada aceitou submissa ele sentando na cadeira, seu dia já não seria como o dos outros, primeiro porque bebera uma cerveja e segundo seu professor a olhava, a desejava, podia perceber isso e sorria.
Posso vê-la, com o caderno no colo, sorrindo para o professor, os dois bebendo calados a cerveja, um olhando ao outro. Ajeita o cabelo, num sinal de delicada vaidade, pois passara o dia no colégio devia estar um caco. Então, como uma estrela cadente caindo no céu, como um gol sendo marcado nos 47 do segundo tempo, ele ajeita o cabelo dela, lentamente porem tão rápido que a única reação dela foi continuar sorrindo.
Pausa.
Qual é o segredo dos amantes?
Quando já era dez horas, ele pagou a conta, ela reagiu, protestou, disse que pagaria uma. Como era a primeira vez que ela falava o professor apenas sorriu aceitou e pegou a bolsa da menina. Esta o seguiu até o trajeto do apartamento dele. A moça também morava perto. Os dois lembraram que já tinham se encontrado por acaso em algumas situações.
Subiram o elevador olhando para o teto e para o espelho e para o chão.
A menina entrou no apartamento vendo o mundo de livros que ele tinha paredes completas de livros, coloridos, negros, grossos e de poesia. Apenas um divã. O professor tirou a blusa e colocou sobre a cadeira. Ela colocava as coisas sobre uma mesa, quando teve um “insight”. Por que não reagir de outra forma?
O abraçou e o beijou, tirou a blusa e na cama no quarto no divã ele recitou dos poemas mais lindos no ouvido na barriga no Vênus. Endeusava a pequena menina, como um sacerdote em um ritual à sua deusa. Tocava seu corpo com firmeza e sutil toque de calafrios. Cada curva era um descobrimento, afinal ele só a via de farda.
Meia-noite. Ele dorme. Ela deixa o seu telefone e se vai.

Cronicas de Esbornia. parte III

ANDAR DE ÔNIBUS
Andar de ônibus nos traz a sensação de ver varias historias através da janela. Rostos que não conhecemos e que através da estética descobrimos ao menos umas pistas, estranhas por vezes, é verdade.
Foi nesse pensamento que percebi uma mulher andando nove e meia da noite passeando com dois cachorros, em rua nada confiável. O sinal fechou e aí pude analisá-la de forma mais atenta. Tinha um semblante triste e preocupado, os cachorros cheiravam o chão, despreocupados. Pela roupa percebi que era discreta e daquelas esposas donas-de-casa. Pude então formar uma opinião pensei primeiro no mais melodramático e escatológico. Ela saiu de casa tarde, na desculpa de sair com os cachorros, para formar um plano, o marido devia estar dormindo ou bêbado ou cansado do trabalho. Plano de fuga, de matar o marido que a bate e trai. Ou matar a amante que por acaso é a vizinha, ou então saiu na desculpa de sair com os cachorros para ver se o marido a trai. Mil possibilidades, ela mesma podia ter um amante e planejar uma futura separação, filhos envolvidos em drogas e para isso ela os seguisse para ver se iriam comprar algo ilícito. Tentei não pensar em clichês, mas como não pensar quando vemos um semblante preocupado como o dela, por vezes olhando o chão e o céu como se fossem coisas terríveis.
O sinal abriu e eu a esqueci.
Parou num ponto que era numa praça, percebi que uma mulher me olhava quando fui ver era uma linda mulher, entretanto albina! Ela me encarava com uma indignação típica de quem é perfeita e por causa de um único cromossomo a sua perfeição estética se estragou – por assim dizer – olhava para mim percebendo o nariz afilado e os olhos negros e senti uma inveja estranha por parte dela, pensei que ela estivesse pensando que como tinha azar na vida, logo albina e sem poder mostrar seus verdadeiros atributos. É claro que não defendo esta tese de que o corpo e a aparência são vitais para o ser humano, ajudam, e muitas pessoas ainda crêem na tese de que ser belo é ser bonito, mas ser belo é ter virtudes como a honestidade, a liberdade, amizade e muitos “ade”. O que quero especificar que quando percebemos estas e muitas outras virtudes a pessoa dita feia pela moda acaba se tornando bela, belíssima. Houve uma época que ser gorda era um privilegio de poucos e por isso mesmo o ideal de beleza, hoje é o oposto. Então para os bonitos digo uma coisa: sejam o que vocês são, tão simples, para os feios: parem de ir a academia na tentativa de se tornar belo, salão de beleza é uma saída também que não é boa, cultuem os corpos como alguém que cultua uma boa torta de limão, sem preocupação... ah... tô me encanando muito com esta história. Bem sei que foi por causa do olhar dela. Imaginei que como estava sozinha, algum idiota deve ter soltado uma piada grossa, do tipo “ô, gostosa albina, vem pro papai aqui.” Isto além de revoltante dá uma raiva por que os rapazes que ela deveria desejar não estão nem aí por ela ser albina e vem uns escrotos desse e estragam a noite de uma bela mulher.
Virei o rosto para não a olhar mais.
Entraram uns homens ignorantes bêbados enxeridos chatos e sentaram logo na cadeira atrás de mim, ficaram frescando com o meu cabelo – por ser curto – tentei me concentrar na rua, não ouvia o que eles diziam, lembrei-me da Amélie Polan, no seu filme, lindo. Mais uma vez o sinal parou e olhei ao longe um casal numa bicicleta, os dois extremamente magros, não sei vocês, mas eu reconheço noieros (fumadores de crack) de longe. E este casal era típico casal noiero, a mulher usava uma blusa uns três números maiores e parecia feliz ao lado do amado, saciada, paciente como se tivesse acabado de conseguir algo valioso, dinheiro, nóia. Ela me olhou e soltou um sorriso, não tinha tantos dentes, mas tinha algo que poucos tinham no sorriso, por enquanto não sei descrever. Ele beijou o pescoço dela quando o sinal abriu.
Enfim cheguei ao destino e quando cheguei ao chão percebi que depois de tentar adivinhar tantas historias de algumas pessoas era a minha vez de decidir a minha.