segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Stracker.

O mendigo que abandona o próprio corpo e se esvai pelo corredor que lhe sobra. É um bandido que assusta com o cheiro e faz sentir o próprio abandono. Pois bem, todos nós abandonamos os próprios desejos em algum momento, seja em alguma festa onde todos te desejam e você por lembrar de um amor antigo ou nuevo... não se leva pela festa. O mesmo mendigo pega um ônibus e se diz independente. Independente de quê? Do sistema de valores que nós carregamos ao julgar o tempo todo todas as impressões e os sentimentos e nos atamos na merda, numa bosta de merda, de sim eu te quero sim eu te adoro por você ter esse cheiro tão delicioso... O mendigo não tem isso, ele carece, porém tem todo sorrisos ao ver no banco da frente o menino faze-lo rir. Do meu lado sofre o amor não correspondido via Facebook. Saia da minha frente, mendigo!(pelo contrário a minha vontade é me juntar a ele a sujeira total, dormir na calçada). Saia já daqui com o seu fedor e incômodo... E por mais que lutamos por uma justiça social, o que dizer: o que é justiça social? Quando o cheiro – imperativo corpóreo de animais cartesianos – incomoda. Como se pode deixar envolver pela compaixão ao ver o mendigo sorrir, sei lá, ele sorria! Sorria ao ver o menino fazer suas presepadas e quem sabe, vindo do ângulo de quem tava quase ao lado, sorria por perceber uma nova esperança, uma nova vida, mesmo cheia de vômito na camisa, é confuso pensar o que o outro planeja, não importa qual seja, mesmo fedendo a xixi e a sabonete de rodoviária. O ser humano por mais desistente carrega dentro de si uma vontade que só cada um pode despertar o desejo inexplicável de viver, seja como for. A vida é uma (una?) já dizia as auto-ajuda.
E agora exclamo a minha indefesa capacidade de não conseguir ficar numa festa sem estar chapada. Voltamos ao assunto: o fedor, o abandono do corpo e o arrêgo. Foda-se. É sempre uma exclamação de quase-desistência. Esse quase quer dizer: eu tentei. Tentei viver num mundo cão, que só sabe repudiar e julgar. Tentei me estabelecer, trabalhar e o que isso significa: o tempo todo dizendo: não abandone seu corpo, pelo contrário faça-o trabalhar mais e mais e mais. Com muitas repetições e muitos apelos. No fundo trabalhamos pra valorizar mais e mais e mais nosso corpo, porque a mente é o corpo. “Sai fora!” Saio... Já saí tantas vezes que ao ver a festa mais louca e mais dedicada à Dionísio eu desisto. Desisto porque de cara não agüento mais um segundo. Sim até dancei alguns relances e por momentos vi pessoas que me lembravam quadros, mas até a vontade esvai o desejo, até onde vai a expressão do corpo, solicito amável. Perscruta e sente o cheiro. Sente aquele cheiro de sabonete de rodoviária, vômito na camisa e xixi na calça. Sente o cheiro de desapego ao corpo. Houve um momento que pensei: posso ficar aqui porque a amo. Ou posso ir dormir e sentir os sonhos de Morpheus me invadir, prefiro o mundo do Morpheus até que encarar a grande questão Alephiana... A palavra é errada, prefiro encarar o meu mundo do que invadir uma grande festa de exorbitações, de exibições ao bom claro som... A palavra errada é sublinhada em vermelho, coisa mais comum em São Paulo é ser sublinhada em vermelho. O fogo que queima em círculos não teme mais a fome, mas sacerdotiza o brilho e faz nos levar a mistérios, porque é mistério, mistérios não compreendidos, a mágica, prestidigitador de sonhos. O sono bate, mas vem tantas palavras que me pergunto: por que escreve-las se o sonho continuará aqui, primeira vez que uso o verbo no futuro, futuro? Primeira vez que nos deixamos deleitar por palavras sem sentido tais como há vários planetas dentro de nossas cabeças, sentimos vários cheiros, alguns nos desagradam e outros nos fazem gozar. A festa sim... boníssima... A festa sim me fez dançar feito Elvis Presley... Mas ainda sinto falta do bolero e da dança com aconchego daquele que faz questão de declarar que o mundo dele é o mundo que dedica o corpo a construção de uma vida. Não deixo de amá-la, mas bem que queria um pedacinho do que ela tomou. Para continuar na festa, para continuar no ritmo. Sim, continuo de cara. Sim, a chapação tem que continuar.