vc ficou sabendo do calendario trans que rolou no ceará?
me lembrou o
trabalho deles.
A princípio achei os sites no geral muito imagéticos e
interessantes, me gusta cultura, pero há uma linha tênue entre trabalhos que
nós vemos pornografia e sentido e pornografia e coisa (ou objeto de desejo
coisificado, por assim dizer). Digamos que a essência do nu esteja justamente
em provocar um comixão corporal nas pessoas, um comixão animalesco onde os
movimentos, os gestos - ou mesmo os nossos devires cotidianos - se revelam, se
desvelam e se deixam sorver por um status ontológico e porque ontológico? justo
por nós buscarmos a essência dessa louca existência, dentro da máscara
dionisíaca existe um pouso seguro chamada ontologia. Explico.
Primeiro, como é a pornografia convencional - ou seja,
esteriotipante para o hetero, masculino e macho, que chega a ser violento - daí
sua vista começa a ser esteriotipada tb, seu modo de ser, comportamento,
convencionado em papéis em cada instância de poder e desejo, personas que
admitimos no trabalho, na casa, no discurso público e privado e em frente ao
computador (não digo nem cama, digo masturbação). Acaba que quem tenta travar
outros pontos de vista para a mesma imagem, sendo criando ou re-postando, pode
acabar caindo na mesma interpretação e sentimento sobre a imagem que o Macho
tem ao ver zorra total e suas mulheres de toalha. Outro ponto é como essa
ruptura - meu chute é que ocorre às vezes e essencialmente com os homens e por
isso q é um processo violento - é estuprante, um processo que se pensa
que para se chegar a libertação sexual tem de se passar por uma transgressão
criminosa e culpada. Acho que já saímos dessa história de culpa e
crime, ne? Mas entendo que é um processo doloroso sair do esteriótipo de machão
e pensar a sensualidade numa instância PARA ALÉM DO SEXO, pensar uma ontologia.
Segundo antes da ontologia. Precisamos visualizar como uma imagem
pode ser pornográfica e carinhosa ao mesmo tempo. Por que não se fala de afeto
com imagem? É muita ingenuidade minha acreditar em sacanagem amorosa? Parece
que pornografia é uma instância onde deixamos de lado a nossa pose de
mamãe-cuido-de-tudo pra se tornar a quenga vadia. Ou seja, nós
mulheres também somos estereotipadas o tempo todo. E seja em freud ou
no sertão, o homem não consegue visualizar sua própria mãe na cama. Ou
o que a mãe representa, enquanto entidade de carinho, afeto, paciência, amor.
Recalque, timidez, embrutecimento, são
só afetos consequentes dessa cegueira sensual, abrir a vista para entender o
sexo não somente como processo pinto-buceta, mas olhar e cheirar, pensar,
investigar, faz com que o homem quando leve um fora ou quando a mulher só quer
ser amiga fique de boa, porque se goza também conversando e bebendo à vida.
Digo isto porque já tem um tempo que me deito com homens e mulheres e também
com Bataille, (o mestre teórico do erotismo) vemos que tudo é questão de
aceitar a mãe gemer e que podemos pensar nossas emoções numa instancia comum,
em casa, tipo to sofrendo de amor, to. E ai?
Pois bem, tive eu umas três gerações de mulheres que me ensinaram
que homem e mulher a gente lida com amor e riso, mas não é piada, é modus de
ascutar a vida.
Que sexo e parto são os grandes
traumas do Homem, com H maiúsculo, aquele dotado de razão e pau duro, nós já
sabemos, como é que eu sai daí? Mamãe, me explica, por que vc é tão linda? E aí
o macho cresce sabendo que tem que trabalhar em alguma coisa, ter prazer em
outra, morar numa casa, tomar banho, etc, várias normatividades, por assim
dizer, uma rotina, um cronograma e até a bebedeira dionisíaca tem data: fevereiro.
“A vida é curta, mas o dia é longo”, já diria o poeta. E, por isso, a
ontologia.
Onto – logia. Sejamos sinceros,
é sabido que estudamos e somos sérios, mas num dá vontade de rir? Nós aqui,
trabalhando pra pensar um estatuto que sirva de base para as nossas crenças e
afetos? Aonde quero chegar é que mesmo que descreva e vou tentar descrever, é
que o movimento de saída do estereótipo machão para um criador, libertário e libertino
envolve uma criação, o salto nietzschiano, a angústia heideggeriana, a putaria,
envolve experiências no-mundo,
arriscado como é, quente como é e se permitir a perdoar quem tentar te
violentar, te estuprar com o estereótipo machão. “O medo leva ao ódio, o ódio
ao sofrimento”, episódio um do Star Wars. Portanto, a ontologia que pratico e
não sei descrever, vê na amizade e na sinceridade um up para uma “ética”, do
jeito que vc quiser denominar, algo como o nosso modo-de-ser brasileira. Tô falando de Xica da Silva,
Tieta do Agreste, Dona Sebastiana, etc.
Spinoza é um rapaz bem
interessante, me ajudou bastante nessa deriva [atravessia, a (negação) +
travessia (ação de ir de um canto a outro, continente e rio), porque a nossa
travessia não é linear, é multi, é uma rede com personas de todos os tipos, em
todos os estados, online no seu facebook, prefiro skype.] Spinoza é um
tecnomago de primeira. Ensina-nos que o homem é dotado de um saber que ajuda
ele atravessar essa deriva, mas que esse saber (techné), num é imperial dentro
de outro império, é afetivo porra! Ou seja, admitamos logo a existência de uma
opinião corporal, que se dá no dialogo, na técnica, de maneira que quando
ocorre sua transcendência nós pensamos logo em magia, porque é mágico. Explicar
em poucas frases é difícil, tentarei fazer uma fórmula:
(afetos ativo e passivo + Pasolini).(deserto e salto nietzschiano) +
dança = ?
Para ser bem firme: nosso corpo manifesta o inconsciente mesmo quando a
gente tá acordado, trabalhando, trepando, comendo, cagando. E lidar com esse inconsciente,
esse vazio, esse buraco, muitas milhões de vezes levam as pessoas a tomarem
remédios. O gozo na doença, o ciúmes, posse, objeto de desejo coisificado.
Desde pequeno aprende a ser tratado como um objeto que vai se mover de
um canto a outro, da cama pra escola, da escola pra universidade, da
universidade para o escritório. Seja homem ou mulher, aquele produto consumidor
triste. Aí depois de anos de tratamento coisificador, a pessoa se torna uma
besta. Engraçado, que os antigos usavam o termo bestiale para se tratar de
pessoas loucas e desvairadas e sexuais. Pois bem, utilizo agora para tratar das
“people-born-to-office”. Acostumadas a ver televisão, transar uma vez por mês,
comer porcaria, comprar tudo no natal, porque é natal. E até mesmo os fortes e
bonitos, que comem as modelos, as vezes se pegam nesse buraco, big bang!, e
mesmo comendo a gatinha de quatro, como se fosse um boneco Ken Vietnã o cara
não goza. Foda ne?
Já conheci muita gente que vive esse modus de vida. Trato com carinho e
apenas receito Spinoza, mesmo sabendo que as pessoas sugam cultura e não vive
ela. Comem como glutões endinheirados, mas não conseguem criar mundos
fantásticos reais! A palavra se tornou uma propaganda. De troca e oferta de
poder nas já ditas várias instancias de poder e desejo, como trabalho, casa,
internet... E, digamos, que se eu me oferecesse toda, para além de ficar nua
numa imagem e se dissesse que além de me exibir, eu amo e passo amor? Que a
postura pública admitida é contra a violência e aberta ingenuamente à conversa
aos violentos. Sobre o cotidiano e etc... E afunilando na postura privada e de
quem faz pornografia – nos casos pós-porno na espanha e no brasil, vide
texto pós-porno da Fabi Borges – para criar novos prazeres, des-hierarquizar os poderes, tornar os
prazeres libertários para chegar em sua instancia política-cotidiana. Para que
possamos não ser chamados de hipócritas (senso comum brasileiro) e que nossas
novelas se libertem da muié que qué o macho e num consegue, a mocinha fica com
o mocinho. Só que o mocinho na vida real ainda vai pro puteiro.
Vide: Pasolini tem um filme chamado Comizi d’Amore, onde investiga na
Itália o que as pessoas pensam sobre sexualidade.
Tentei explicar durante o
texto, como um desdobramento do primeiro parágrafo, onde eu apontava no risco
das imagens serem estereotipadas pelo machão e como podemos fazer uma
pornografia que rompa e abra novos veres, sorveres, desbravares, usando o
discurso do amor, aceitando que a mãe trepa, tornando o dialogo mais leve e
cotidiano.
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