terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Off diario - cura da ferida da opressão ou sindicato dos humilhados

Off diario - cura da ferida da opressão, terapia coletiva de ferida que vivi ou por um sindicato dos humilhados

Hoje meu foco é : numa cena banal você é humilhado em publico.

Desde criança eu cresci sendo humilhada. Sabe como é aqueles comentarios de julgamento : doida, puta, escrota, bandida, sem futuro, sabe-se la quantas vezes eu fui julgada em tribunais de rua ou pelos tios que hoje são bolsonaristas.

Bom, se escrevo é para sair de mim mesma nesses julgamentos opressores sem precisar ser vitimizada : se escrevo é porque sou inocente (apelo pro meu nome de familia, mas porque também sou ingênua e so quero ter uma vida boa, com amigues e amor, minha facção é carinhosa).

Como escritora eu gosto de mostrar cenas em que eu mesma vivi, escrevendo como que mostrando "olha, podemos sim nos defender e curar" das feridas cotidianas da disputa do poder, inclusive do poder viver.

Mas, ontem mais uma vez sofri uma humilhação em publico (uma festa de aniversario em que havia amigues e namorados de amigues). Pode parecer cena infantil de bullying com trinta e dois anos, pode ter sido isso e eu devia ter ficado na minha, mas não fiquei não.

Isso abre a porteira do inferno : como você reagiria numa cena de humilhação, sendo que a vida toda você viu isso e teve que "conviver" com isso ? Tudo isso porque brinquei dizendo que ia levar papel higiênico para festa. Maldita hora que resolvi brincar.

Sabe quantas vezes você pensa na possibilidade de simplesmente desaparecer porque você não aguenta mais a humilhação ? Sobretudo de gente que te diz ser tua amiga, parceira e tão oprimida quanto, mas enfim, como pedir ajuda a uma pessoa que repete a formula do Paulo Freire "o sonho do oprimido é ser o opressor" ?

Por sorte eu gosto de ficar sozinha e conversar comigo, por sorte eu escrevo para afastar os demônios da necropolitica e assim não virar estatistica, por sorte eu existo e tenho quem me ama, por mais que agora eu tenha me casado com uma tese de filosofia, dramatico casamento, de todo jeito eu não ando sozinha. Mas tem certas porradas que a gente leva que fica dificil de digerir, eu fui derrubada ontem e por um momento fiquei no vazio de não saber a quem falar. Escrevo nesse oceano de gente virtual, porque no fundo não quero encher o saco de ninguém, muito menos dos meus melhores amigos (inclusive os que não tem facebook). Não se perdura no sofrimento nem na humilhação, se corta.

Porque cansa apanhar da chantagem do capitalismo, pagar aluguel e ser feliz, fitness, se dar bem na vida. E ainda assim ser humilhada todo dia e "fingir" que ta tudo bem.

Não ta não irmã !

Escrever é um ato de liberdade. Se a pessoa que te humilha não ta nem ai pra você e humilha não so a você, mas ao mundo, saiba você não ta sozinho.

Bota um racionais mc's e ouve o discurso do Lula, um dia de cada vez Brasil.

Mas ta foda, bateu e doeu.

E mesmo assim eu não desejo nada de ruim a quem humilha para se sentir gente, ao contrario, como amiga eu grito :

Descoloniza, muda essa tua rotina de humilhar os outros, sai dessa logica de dominação, para de achar que é humilhando que você vai se sentir melhor ! So se ama amando e vai fazer uma terapia ou um passe que ainda da tempo.

Facção carinhosa êê. Dias melhores virão, axé.

Foto da performance que fiz dos Banhos no evento Anti-Colonial, para que se saiba que de arte que a gente vive, que se transforma em ação cotidiana de cura e, por isso, em politica, fé e filosofia.