terça-feira, 22 de setembro de 2020

off diario nova casa

 off diario  poema para kelly saura e daniel rocha


este espaço do eu


que longa ficção que começa assim "eu sou" depois "eu quero" e no fundo é tudo é nois


ficção que as vezes nos faz ficar nessa de insistir


o que mais me entristece é o capitalismo - e perceber que trabalho desde os 16 anos e que bem provavel a ideia de "aposentadoria" nem exista, quando assim ela chegar, minha avo me disse que trabalhou dos 6 aos 60, não vou reclamar, ela lutou por mim, minhas ancestrais lutaram por essa luta 


como dizer aos amigos que a merda não é com eles e sim com a injustiça social, o racismo estrutural e todas essas merdas ? como dizer ? agradecemos aos amigues que sabem e saem devagar e sempre, a espécie é companheira e fazemos o que podemos, as vezes é um tapa, as vezes é um não, as vezes é um ame e dê vexame...


não sei, so sei que é assim, um dia de cada vez, a casa chega e é nela que me concentro , mas que caro é ne manter uma casa, manter um corpo,


um dia de cada vez


o coletivo é o coletivo do comum 


foto do @mario andre carvalhal em algum lugar do mundo





quinta-feira, 17 de setembro de 2020

A mudança

 

A mudança começa quando decido não mais publicar no Facebook um texto banal ordinario de vida e cotidiano.


Começa pela decisão de não querer mostrar assim tanto o que penso e o que sinto, talvez porque seja vergonha ou ainda sobriedade do que vivi e vivo nestes dias tão intensos.


Voltei a amar, voltei a sentir frisson e fico abestada olhando pro nada e me perco achando o achar dos outros

e hoje fui na prefeitura buscar meu titre de séjour, ajudei uma moça que fala espanhol a resolver a burocracia pra sua mãe, ajudei uma mulher com passaporte meio russo, e fui ajudada de uma certa maneira com todos esses olhares e perspectivas

pois que fui atras do celular e nao achei

passei o processo de admitir a mim mesma que isso acontece, mas também fiquei na duvida, sera que é porque nao fiz um ébo assim tao bom a Exu, sera que foi Toulouse a cidade que amo e me amou e que agora sabe que parto mais sempre voltando, ou sera que é o mau olhado da humanidade no seu recalque, no fundo pode ser tudo TPM ou esse momento da humanidade que sangra todo mês e que se pergunta se a fragilidade que ela se encontra é fato ou apenas uma opinião condicionada da sociedade a induziu desde sempre a achar que toda mulher é um ser doente.


achei que tivesse perdido o celular com cartao e carteirinha dentro, mas no fundo nao olhei o facebook o dia inteiro e o tempo todo estava ali a cliente dizendo que tinha guardado pra mim, parece um desses dias longos e intensos que na verdade de tão banais são apenas mais um dia de trabalho.


Mais uma vez Isabella Aurora me acompanhando e amanha recomeça a aventura no festival Sauvageonnes !



<3

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

10 anos de Banhos

 ouvindo : claudia - deixa eu dizer : https://youtu.be/dsRynn4S1dM


Site : https://cargocollective.com/inocencioraisa/Banhos-Bath-s-Les-Bains

Maria Lugones diz dentre outras cositas que a descolonização é sobre atenção no cotidiano, papo reto do boca-a-boca. E a pesquisa de campo tem acontecido exatamente isso, conversas potentes, que me renovam, que me renascem enquanto ser, que fortalecem as redes boca-a-boca. Dentro do furacão do inimigo, eu renasço. Com direito a existência, a ser, efetivamente o que sou, a parar de me invisibilizar, a não aceitar mais e nunca mais e todo dia com alegria e afeto, resistência numa guerra psicológica de criação de categorias ontológicas (palavra difícil que diz simplesmente o termo técnico da filosofia sobre a substância do ser), que distinguem quem é superior e quem é inferior numa loucura chamada Estado patriarcal e colonial, explorador e destruidor, genocida e capitalista. Hoje ta mais fácil entender o que antes era chamado de utopia, olha a época de hoje – pensando em como Roy Wagner vê a noção de época – olha a época que estamos vivendo (!). A descolonização se tornou um projeto político mais do que nunca real e necessário pra própria reformulação do que acreditamos Estado e Estado de Direito (!).

No que concerne o cotidiano, a lida com o corpo e a energia, insisto e persisto comentando e este texto na verdade o é, que uma declaração de celebração, porque há 10 anos que comecei a performance-ritual dos Banhos como prática do trabalho filosófico, como complemento sensível e parte integrante e quem sem os banhos não saberia nada do axé e da cosmologia erótica. 10 anos de lá até cá o que comecei fazendo em festas no nossaCasa (SP), mostra pos-porno em Buenos Aires, Manifesta em Fortaleza, Rio de Janeiro incontáveis vezes no IFCS, Unirio, UERJ, na praia e na vida, com espontaneidade pirata, sensibilidade de cólera e necessidade de auto-cura, agora me disponho a falar mais sobre isso e se assumir né gente, parar de se invisibilizar é se mostrar, mulher pública, mulher que fala de política, mulher que fala assusta. Hoje apliquei rapé numa amiga precisando de energia, falou da pandemia e da crise de imigrantes – o que já sabemos há 10 anos na Grécia. Ambas as sinergias estão em conjunto tanto a escolha política de homens que lidam com a guerra e nossa escolha do íntimo e do doméstico do cuidado pra curar essas feridas emocionais que todos os dias lidamos.

Com isso não estou fazendo ode nenhuma ao sacrifício, meu assunto fica nos banhos e nos seus modos de fazer. Quem quer saber mais vamo de inbox e vou ver quem respondo porque a cólera é motivo de justiça, se vacilar vacilou vacilão.

10 anos em que tantas batalhas atravessei que hoje só quero uma coisa : publicar esse post e parar de entrar na internet pra terminar um negócio ali acolá (muitas risadas com café gelado e um baseado ).

Obrigada a todas as pessoas que fizeram os banhos nos últimos meses desde o Corona pandemic times e a todes amigues que me salvam banhando de amor e carinho.