sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Conto inacabado

A moça entrou no quarto, seguido de um estremecimento. O seu homem estava pelado, completamente nu e de pau duro. As frases e os pensamentos seguiam-se assim curtos e nervosos. Deixou a bolsa num cantinho daquele conjugado decadentista, onde se encontravam como amantes, solitários e escondidos. O banheiro era todo branco e o quarto era todo amarelo de gordura humana. Beijaram-se longamente, as mãos grandes dele cobriam o rosto pequenino dela. A moça procurava beijar cada pólo da pele, cada buraquinho estava sua língua tentando distinguir o gosto e o cheiro entre o pescoço e a nuca, a virilha e as tais bolas. Sentou em cima dele, ficou mais nervosa, sua barriga gelava de calafrios e suas pernas tremiam que tirava os tacos do chão. Os dois estremeciam. Pequenas francesinhas invadiam as paredes, alimentando-se da gordura humana, das quais ninguém se importava pelo fato de serem muitas - mas muitas mesmo! -, parece que elas mantinham um determinado respeito pelos dois, não invadiam o pequeno espaço de dois corpos transando. Francesinhas subiam pelas paredes não lhe davam asco. Era mais um sexo normal, não fosse pelo fato de dois amantes se encontrarem não ser um fato normal. Porque é Paixão. Uma tal voz poética inspira a eles ao gozo. Como um ritual. Ela se perdia quando ia fazer um boquete, era uma selva de perdição, quando fechava os olhos e deixava se perder pela lentidão dos pelos, via que tinha encontrado sua ilha desconhecida, da qual saliva, mordida rimavam com amor. De repente ela perde as palavras, nao consegue gemer mais o quanto o ama, acha que está perdida, ele o calado, fala, fala que a deseja, que a adora. É mais um casal se encontrando em uma tarde na Av. Presidente Vargas. Com direito a francesinhas subindo as paredes, selva de pau e obsessão por pele.
- Um cigarro por favor.

5 comentários:

l u a * disse...

uau.

Victor Meira disse...

...e uma cerveja gelada pra acompanhar.

Coisa boa, Raisa.

Heyk disse...

Sem perder o fôlego. Muito bom.

Escuta: sem perder o fÕlego mesmo, tudo num parágrafo, quem tem tempo de respirar. As francesinhas que o digam. Que figura legal a coisa da gordura. Fantástico.

moça disse...

era mesmo de ficar sem reação a plateia!
muito bom
;)

:*

moça disse...

"A moça procurava beijar cada pólo da pele, cada buraquinho estava sua língua tentando distinguir o gosto e o cheiro entre o pescoço e a nuca, a virilha e as tais bolas."
adorei essa parte!
:P