domingo, 1 de julho de 2012


Contexto, performance, cotidiano e amigos
                                                                                       Ou toque, retoque, abra.
Acendo um beck, enquanto escuto Tarrega, dou poucas tragadas até começar a escrever esta carta, uma carta de muitas cartas, trocando uma carta por pessoa, uma pessoa de muitas pessoas sou eu. Números não servem para visualizar a imensidão do homem e o quanto somos impelidos a esquecer, esquecer e negar. Negociar. Proponho um ociar, uma batida de porta, um soco quem sabe?
Por que escrevo? Por que me dou ao trabalho de pensar o dia inteiro sobre o que me comove a escrever o que vou escrever agora? Posso (olha o poder se manifestando...) posso dizer que mãe filosofa e franciscana (dois conhecimentos que no que tangem ao homem, acreditando tecnicamente num Todo, de um lado um universalismo escroto que diz somos um e de outro uma crença afetiva muito forte na alteridade, num amor por todos, filo – amor, sofia – sabedoria) me fazem no mínimo pensar nisso.
Esta carta, por outro lado, é para vocês: raphi, sara e filipe. São imagens os cotidianos que nos levam a dividir nossas realidades, não é? Ora, sou aluna, ora sou amiga, ora sou aquela que tenta ao menos desorientar esses sentidos tão seguros, assim responsáveis por essa sociedade cada vez mais preocupada no próprio cu. E a miséria afetiva e o esquecimento social se dão assim. Falar do cotidiano é assegurar a balança dos afetos e comer, digerir e sentir a boa liberdade de chorar ouvindo recuerdos de alhambra. Sem ficar triste.
Fico cansada, porque são tantas coisas a serem discutidas, debatidas, institucionalização feroz da arte que grita e reclama uma amiga de anos por causa de um celular? Claro, sem falar que se sabe que o celular era de um telefonema de um amigo em pleno surto. Então não assistisse a performance, de fato, mas o que me foi ver o Ron – que segundo soube já fez performance em viaduto, metrô, com toda abertura para o barulho externo – mesmo assim Sergio porto e eu temos uma relação controversa de silêncio e aproximação do publico através do som (já que o toque é proibido), então meu amigo sua performance não é performance, é espetáculo, sendo assim a diferença entre você e a novela das oito é a quantidade de palmas, é a burocratização da arte, o enchimento do saco através do retoque, retoque a moça para não atender mais telefonemas em performances, vai tomar no cu sabe. Sem falar quê. Sem falar quê Penalva is my friend too. Ver sangue neon gritando por toque pensando “penalva is dying”, a carne sendo perfurada e a morte me aproximando, e o sangue escorrendo mesmo que eu não pudesse pegar, claro, não pode tocar o artista, ele é sagrado! E era justo isso que eu queria dizer pra ele naquele momento lá fora, Sergio porto. Sacralizando um comportamento, um sistema, e ainda ouço maliciosamente por uns que eu guardo troféus, que idolatrio romanticamente os meus autores vivos... quando digo que todos nós somos sagrados, riem, e sinto gosto de fazer as pessoas rirem, rituais risos e conceitos testados. Testing! Testing! Testing! Somos todos bobos da corte, médicos da alma, filósofos inaceitos, pochanotristas somos todos bobos da corte. Mas só quem possui o poder do riso pra ser séria como estou e sentir esse cansaço, dancemos um flamenco, meio brega, mas eu curto.
Performance na sua construção implica conceitualmente os cotidianos que cada artista diz viver. Perfurar o corpo, tomar banho de vinho, tomar água, são todos os gestos que repetimos de algumas maneiras no chato cotidiano.
No íntimo sincero...  Conte-me mais sobre o que você acha da performance?Diga-me com todas as palavras de monografias, dias, suores, sobre o que você vive da performance? Com quantas pessoas você já conversou sobre o seu trabalho?
Ditas palavras com ar de sentido – cartografias não se esqueça, alguns lêem felizes e sorridentes com o próprio cansaço, outros esquecem (titio Heidegger sabe muito bem sobre os esquecidos), viver-no-mundo não é fácil, Darling. Espero que me acolham e me perdoem por todo o infortuito parto de letras e sentidos desorientantes, esquizos, confusos e carnívoros num complexo sistema de aceitação.
Mas prefiro ficar boba e escrever. Escrever pra quem curte ler e viver a leitura, escutar a leitura, criar outras leituras, soltar, comer, cheirar o meu cheiro através das linhas e pontos...
Todos nós somos sagrados
Do amigo rebecchi
da profanação a todos nós somos sagrados

1. Quem profana amigo é.
2. Quem profana os males espanta.
3. Quem profana acha.
4. A profanação nunca é plena, se a alma é pequena.
5. Quem não profana, não petisca.
6. É profanando que se aprende.
7. O Cramunho ajuda quem cedo profana.
8. Vivendo e profanando...
9. Quem ama profana.
10. Profanar é preciso; viver não é preciso.
11. Profanar já é metade de toda ação.
12. O pavão de hoje é o espanador/profanador de amanhã.
13. Antes profano do que nunca.
14. Olho por olho; tridente por tridente

• Nada mal, nada prudente. Nada bom, sempre prudente





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