quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Alice e Aline

De repente resolvo escrever aleatoriamente, como quem busca uma resposta de tantas perguntas frequentes, tudo baseado na paixao pela vida, talvez até pela decadência. Já diziam: a memória é uma ilha de edição... E as minhas memórias retornam com frequencia... Como boas memórias.... nao consigo ser melodramática e blá blá blá. E pintar as unhas de vermelho pra muitas é um sinal de rebeldia feminina... rebeldia feminina é ser como foram as minhas amigas. A seguir contarei histórias de amigas que me fizeram e ainda fazem parte de mim.

São historias de verdadeira rebeldia, verdadeira quebra de regras e hipocrisia também.


Tinha eu 14 anos. Acabado de ler o Mundo de Sophia. Minha mae nao deixava eu sair. Entao eu ia para casa de praia. Não me lembro direito, mas o acaso me levou a conhecer duas meninas: que aqui chamarei de Alice e Aline. Alice era evangelica e grande. Independente de qualquer homem da cidade. Super vaidosa. Maquiava-se durante horas. Já Aline era o tipo intelectual, muito bonita e nunca foi de seguir os dogmas da cidade.

Dogmas estes apenas na aparência.
Dogmas da Cidade:
1- mulher nenhuma sai sozinha com homem algum.
2- mulher nenhuma bebe cerveja e nem fuma porra nenhuma.
3- mulher nenhuma volta de manha se nao for acompanhada dos pais ou do irmao.
4- mulher casada é mulher em casa.
5- mulher nenhuma fica ou beija com mais de dois homens na cidade.

E assim por diante. É óbvio que todos fingiam aceitar isso. Só que as unicas que tinham liberdade para quebrar esses dogmas eram nós. Tipo sempre íamos para Fortim, Canoa, voltavamos de manha e nao sei com quantos eu fiquei. Até que chegou a um ponto.

Era para ser mais uma festa.
O meu aspirante a namorado já tinha entrado na festa. Estavamos na fila a espera da compra do ingresso, entramos na festa, compramos uma cerveja e chega o tal do meu aspirante a namorado. Confuso, a face meio conservada a sentir raiva, perguntei o que tinha acontecido:
- Me disseram que voce e Alice estavam se agarrando na fila.
...
E daí? E mesmo que acontecesse e nao aconteceu. Tudo bem. Eu era virgem e louca pra trepar logo e saber como era. Foda-se. Eu estava realmente muito bêbada, aliás todas as tres, chamei o tal do aspirante a namorado e fomos a praia. Nao rolou, eu estava bebada, nao me lembro. Mas acho que o cara caiu em si e nao transou comigo. Ele era legal. Pena ser tao medroso e nao ter saido daquela cidade. Ele teria um futuro otimo em qualquer lugar, menos naquela cidade.
Quando cheguei na festa já era de manha, as meninas já tinham ido embora, ou seja chegar em casa sozinha, carão na certa. E foi. Acho que foi os carões que eu levei em minha vida de pré-adolescencia que me fizeram querer mais e sempre mais. Naquele momento pensei que aquilo nao passaria nunca, mas passou, tanto passou que quando fui a casa de Aline chegou o momento de fofocarmos. As pessoas nao paravam de comentar que Alice dava para todo mundo, que os homens só faziam "pegar a senha". Imagine eu com 14 anos escutando aquilo e quantas vezes escutaria comentários do tipo... Maldita cultura onde a mulher "díficil" é a mulher de casar;
A família de Alice começou a proibir ela de andar comigo e minha família nao queria nem saber das duas. Andava mesmo assim. Foi entao que a família de Alice resolveu deportá-la pra Camocim. Aline noivou. E que noivo. Fico feliz por ela, o noivo nao era de lá. Era do Rio de Janeiro. O caso é que ela seguiu os costumes dela, casar, ter filhos e ser feliz. A última notícia de Alice é que ela tinha engravidado em Camocim, creio que nem sabia quem era o pai ou se sabia nao se disse quem era.
Foi com elas que comecei a pensar no que seria a minha vida. Como iria vive-la. Foi a época que mais me senti livre para fazer o que eu quisesse e quando me vi presa - nao pela minha mae e seus carões - mas sim pela sociedade com suas regras de convivencia eu realmente chorei e pensei que iria acabar minha vida sozinha. Minhas amigas longe, uma em Camocim e outra casada.

Um comentário:

mais algumas coisas disse...

bem em uma vez você me perguntou quem eu era...
e eu sou alguem que você conhece,que as vezes(quase sempre...)não se encaixa nesse mundo,as coisas são vagas...precissamos de algo,o que?
fugimos!
é triste ter que se deparar com a realidade e ver que essa não é o nosso mundo assim como em alice e aline me mostraram que o mundo não concorda com os loucos e tentaram me castrar ,hahahaha castrar os laços de amizadade e amor que existia entre eu e alguns companheiros.
mas as coisas so fizeram piorar por que hoje sou pior do que eles e graças as tentativas frustadas de me limitar sou um monstro que se esguia sob as brechas da sociedade sorrindo dessas estupidez toda,ridiculos.
sou algo que ninguem sabe o que é,nem mesmo eu...louco demais para alguns e careta demais para outros.
fia aqui dentro um grito em pnto de explosão,que as vezes sai 'a 100000000000 decibéis mas isso é outra estoria...


ah,choca gata!