sábado, 19 de junho de 2010

Resenha Fundamentação 2010 – 1. Estudos do Espaço. Franz Manata

Parte II – O exercício experimental da liberdade.
A apresentação do trabalho se baseia, nos próprios pensamentos do Hélio Oiticica. Na primeira frase do texto já se define toda a nossa proposta: "impossibilidade de experiências em galerias e museus", ou seja, o nosso seminário não poderia ficar somente numa apresentação entre quatro paredes, fechada e com slides. É contingente a experiência na rua com parangolés para que se sinta o que se sente quando se fala de Hélio Oiticica. Toda a experiência que as seis pessoas do grupo guardaram para si vai valer tão somente para a apresentação quanto para a vida toda e é nisso que o Hélio acreditava, que quando se sente arte, se sente vida, não só pra uma propaganda ou um consumo fetichista e sim um sentir, uma memória viva (quase em carne viva) da arte, as duas se misturam: "uma frase de Fernando Pessoa: tudo o que em mim sente, é pensamento".
Estes pensamentos consistiam em fazer de suas obras de arte vivências, experiências com um público livre de julgamento ou um julgamento livre de conceitos pré-fabricados. Junto a isso uma necessidade de sua época era formar uma cultura essencialmente brasileira, com os elementos marcantes da cultura popular, por exemplo, a Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira: "a Mangueira era uma experiência subjetiva de libertação dos complexos da classe média e do intelectualismo excessivo, uma sensação de exaltação..." Impressiona muito a Helio o fato das classes mais pobres serem tão ricas de serenidade cultural, sem o apelo do estrangeiro nem o excesso de informação. O intuito de trabalhar com artigos tipicamente brasileiros, a dizer papagaios, chita, pedras brasileiras, etc, seria também fazer uma crítica social do que se vivia a ditadura, repressão e a falta de atenção as classes mais pobres, e não tornar os elementos artigos de luxo ou artigos de um estereótipo do que seria o Brasil. O propósito da Arte em Hélio Oiticica é fazer do mundo o seu palco.
É samba, puro e simplesmente, depois ele vai sentir o mesmo pelo já iniciado rock'n'roll quando ele mora em Nova York.Tanto é que depois o próprio Hélio vai escrever um texto chamado Tropicália, do qual o assunto vem a tratar sobre a comercialização dos "elementos brasileiros" e não levando a questão no seu cerne: "ele condenava a folclorização, a redução da 'raiz Brasil' a certas imagens brasileiras".
Que cada pessoa possa construir ela mesma o seu parangolé e que dance e que critique o que lhe machuque como injusto. Não somente padronizar em figuras comercializáveis e tampouco prender a memória de experimentação num museu.
Por isso o grupo sentir e se divertir fazendo parangolé.

Por mais que divagamos e conceituamos o trabalho de Hélio Oiticica, só se é sentido quando você o experimenta na sua mais profunda realidade, quando você veste e quando você dança, ou seja, quando você vivencia. Há uma incorporação, um mergulho corpo-obra, que o expectador se torna a própria obra: "não se trata assim o corpo como suporte da obra, pelo contrário é a total incorporação, é a incorporação do corpo na obra e a obra no corpo." Quando se sente um parangolé, você não mais esta ali para dizer que a Arte é luxo de poucos. A possibilidade de fazer do próprio corpo juntos a uns tecidos coloridos, mais o riso e a dança, ingredientes simples e tão livres de sentir a ponto de causar uma subjetividade diferente a cada um são fundamentais para o parangolé o riso, a dança, o colorido, o livrar-se de receios alheios.

Tem que cantar.

Hélio nos faz sentir suor, músculo além do pensar do deduzir do conceituar, é sentir feito sonho.

É sentir feito carne da qual somos feitas.

Dizem que é um mistério saber onde acaba o físico e começa o pensamento, onde se encontra o neurotransmissor e a sensação, por exemplo, de felicidade, quase que como um abismo, meu chute é que na hora do gozo, quando junto a uma carne você tem uma sensação de prazer imenso, esse abismo se encontra e é na obra do Hélio Oiticica que vamos sentir esse gozo e esse abismo tão próximos: é bem onde há o encontro entre o biológico e o psicológico, não diria corpo e alma, mas diria suor e prazer, elementos que estão juntos e separados pelo o que acontece de forma introspectiva e o que acontece sensorialmente. É nesse ponto que o parangolé une.
Corpo suor mente prazer.

Texto escrito ao som de: Air, Cidadão Instigado, The Doors e Fellini.

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