sábado, 4 de outubro de 2014

RELATO À NISE DA SILVEIRA (HOTEL DA LOUCURA)



opao.blogspot.com

Vi um relato de um participante do coletivo e resolvi também escrever, também relatar a experiência da performance Pesquiza Amoral no ateliê do hotel da loucura.

Escreverei com o coração e com o ethos (ética), mas também vou me referir a outros textos, outros diários, revelo aqui também um discurso, um modo de dizer os porquês, os comos e os aondes.

Nise, tu me foi tão importante nesse processo da montanha* de assimilar a realidade e o tempo necessário para enfrentar de uma maneira tão afetuosa o embrutecimento violento operado pelo biopoder (foucault é nosso amigo), seja na escola, no hospital ou na família, os traumas que nos transformam em seres emocionais, fugindo do racionalismo frio por um tropicalismo latinoquente.

É Espinoza quando clama pela vida. É alegria em forma de inteligência. É liberdade poética e política, como que gêmeas em seus significados conceituais.

Sigo o exemplo da memória que me lembra o emocionante Reginaldo a sentir a  pesquiza Amoral - em teste contínuo uma entrevista-poema com perguntas de cunho realista fantástico, Bolaño diria real-visceralista! começou como uma simulação fantástica de pesquisa de mercado, que no hotel da loucura se ensaiou como entrevistas, aos poucos fui pensando em uma versão massagem-passe-entrevista. Com Reginaldo fiz uma versão massagem-passe, banho para alma, passe para o espírito, entrevista para o filósofo, divididos entre três temas: mar, amor e política - sua resposta emocionante lembrou a família dele, sua mãe e seu pai, se é verdade, na hora pensei, não importa, é seu mais sincero agradecimento, na forma que mais nos importa: presença.


Um dos dias mais emocionantes foi em um sarau tropicaos do ano passado (acho que em novembro) exausta da performance, alegre, feliz para caralho, por tudo o que aconteceu naquele espaço e aqui guardo segredo pra te dizer, tirei a foto da porta da biblioteca, atravessei toda a cidade do rio de janeiro e encontrei um amigo espinozista. Os afetos te dão energia, te dão energia para correr o perigo de viver.ficamos emocionados de saber que exisitia isso: uma biblioteca de nome espinoza em um hospital de nome nise. explico: os nomes carregam invocações, desejos, inspira o que os próprios queria em vida. se espinoza fala de afeto, ética, nise de liberdade, de escuta e atenção, por isso e não à toa acrescentei um z ao nome da performance: Pesquiza Amoral.
Por acreditar na esquizoanalise (Deleuze, Guattari e Suely Rolnik) uma maneira de operar os afetos, de olhar, de perceber, ou seja, uma técnica de trabalhar nossos proprios questionamentos ao passo que também trabalhamos o mundo.

Aliado a bibliografia esquiza vi no facebook o chamado de Dally para um ateliê criativo no hospital Nise da Silveira, isso ocorreu em agosto de 2013. Os primeiros trabalhos apresentados (Vênus e seu banho e uma primeira pesquisa amoral ainda muito tímida). Continuei indo mesmo sem ser pelo ateliê, mas de memória lembro que os passeios com Dally e Luíza entre as arvores retorcidas, os gatos, as imagens pungentes, um clima silencioso e histórico: o hospital, aquele hospital já retorcido em memórias, primeiras impressões.

Aos poucos fui rareando a presença e na última vez que encontrei Reginaldo fui sincera: gentrificada estou, não posso visitar tanto mais… Senti uma puta tristeza, daquelas que a gente escolher sentir, mas daí...
Depois o confronto com a realidade: a loucura que me permitia ensaiar a performance no hospital me fez esquecer a problemática mais cruel: a loucura presente na política, traumatizada pela ditadura, embrutecida e individualizada pelo capitalismo, cada um recorrendo a sua consciência egoíca para solucionar a dor, cada um correndo atrás do seu.
E aonde mais encontro uma casa senão na tua, mulher Nise? É nessa tua casa de força, (aos coxinhas: uma casa imaginária que nos dá fé e força pelas crenças que nela embasam), de afeto, de tratamento ético e técnico com eros público (prazer pelo coletivo) que encontrei, não só pelas ideias Nise, mas pelo projeto e seus principais engajadores, Norte Comum, Vitor Pordeus - que a distancia vi trabalhar e a distância digo que é um trabalho, como qualquer outro, mas que muda, que provoca mudanças, que engaja, que instiga, que inspira, portanto, não é um negócio (negação do ócio), mas pelo contrário uma operação de forças para manter e resistir o espaço do ócio, da vivência por viver, do experimentar porque afinal estamos jogados nessa selva humana sem direito a tempo. O capitalismo enquanto modo de vida arrenda o nosso tempo mesmo quando ele não nos possui.


É sobre isso que aprendi na Nise, o dionise-se é doar sua presença, é receber a presença do outro, é acarinhar, é receber em essência. E ausência aqui tomada por um ponto de vista mais oriental… Mais à vista como direito ao não-existir, ao não-ser, ao caos. O caos é justo para todos. O caos é justo para todos. O caos é justo para todos.

Uma vez que operamos a ordem linear, histórica, racional já começamos a desigualdade, de tempo, de velocidade, de acesso, de borda e fronteira. De perspectiva e olhar paralisado em fotografia, imagem e ação (técnica).

É no caos da dança que operamos a liberdade e a justiça. É no caos da loucura que operamos a igualdade de TODOS NÓS SOMOS LOUCOS. Nesse mundo disparatado entre certo e errado, entre branco e preto, entre … entre aquele que quer vencer e humilhar o vencido… somos todos loucos em querer ser colorido.
Quero agradecer a todos do Hotel da Loucura, abriram meus corações esquizos, senti dos cheiros e do treino o respeito à verdadeira arte: a de manter o mistério, o imprevisível, o enigma, que tanto embeleza a vida, de novo, por sua justiça política. Ao mistério (entre tanto o mistério do amor) a todos é acessado.


ROTEIRO FALADO DA PESQUIZA AMORAL
UM POEMA PARA SER LIDO E RESPONDIDO

no final das perguntas cada um me responde como quer; um olhar; pintura; carta, o importante é q a pessoa participe das sensaçoes

Primeiro exercicio - questao - sensaçao

afeto historico: duas em uma: nossa identidade propria e a identidade institucional, explico a institucionalizaçao da violencia e como podemos institucionalizar o afeto, entre outros sentimentos como a liberdade, dentro do comportamento de uma cultura do medo e da violencia

uma roda cada um se apresenta, fala um pouco de si, de sua propria identidade

depois explico como foi a ditadura; a perda do nome, a criaçao de novos codinomes pra fugir da perseguiçao, tortura e assassinato;

como seria viver isso na pele? como seria inventar um codinome e fugir pra algum lugar sem nem conhece-lo

a partir dai criamos nossas proprias ficçoes de quem somos e o que queremos e se faço esse exercicio de se imaginar na ditadura um afeto historico é pra que possamos usufruir da liberdade que temos hoje pra criarmos nossos proprios nomes e destinos

no final dou uma colheirada de mel de caju pra q eles possam conhecer um pouco da minha terra



segundo exercicio - questao - sensaçao

ansiedade corpo

faz-se uma roda, visualizo o ponto da ansiedade e cada um massageia quem esta do seu lado, explico o q é, que advem de uma massagem chinesa, e que trago estes traços culturais para compreendermos a noçao de tempo e como nos relacionamos com ele

terceiro exercicio - questao - sensaçao

mar amor

começa com um exercicio de escuta de olhos fechados na praia, escutar o mar

depois explico o mito do nascimento da afrodite um pouco do meu trabalho na filosofia em relaçao a moral do amor; o uso da estetica feminina como ficçao moralizante e tambem o aspecto religioso presente na iemanja; a deusa do mar nas religioes africanas

finalizo com algumas perguntas sobre o que é o amor; como queremos vive-lo e no final dou um cheiro em cada um.


resumo pra ser feito na rua:

1) afeto historico: como seria o seu codinome e como podemos institucionalizar o afeto, da mesma maneira que a policia institucionaliza um comportamento violento (coreopolitica)

2) corpo ansiedade: massagem chinesa e depois explico como nos lidamos com o tempo

3) mar amor: o mito do nascimento da afrodite e bbbbbbum cheiro

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