segunda-feira, 3 de julho de 2006

bem, cronica de esbornia, parte IV. considero essa cronica um pouco infantil... mas acontece nas melhores familias...

Quando estamos sentados em um sofá que mais parece um palco, no centro uma lâmpada, daquelas de interrogatório e o sofá pequeno, no máximo três pessoas, algo aconchegante e um leve ar de teatro. Como dizia a tendência é que você interprete um interior seu que nem existe, ou é inconsciente. Vem o baque. Você está com seus amigos, sente aquela sensação de estar presente em algo que gosta, sente prazer. Vem um problema. De ordem sexual. Como sempre, nas minhas ultimas crônicas os problemas, a maioria vem de ordem sexual, ou é a família sexualmente reprimida, ou é os amigos que não entendem meu conceito de sexo, não só o ato – que pode parecer depois de um tempo tão mecânico quanto comer – o que é muito chato. Sim de sexo por cotidiano, amante, vinho, chocolate, filmes e mais sexo. Mais problemas de ordem sexual: fidelidade, como assim se eu desejo mais homens do que o normal, idiota é que pensa que todos nós seres humanos somos iguais, cada um tem sua receita – educação, genética e meio ambiente – e cada um tem mais uma infinidade de tipos. Tem gente que acaba não se apaixonando por ninguém e tem gente (como eu) que se apaixona, que no seu sangue a paixão é como raios atravessando arvores e queimando tudo ao redor num grande incêndio. A fidelidade é uma conseqüência não uma obrigação.
Você esta com homens legais, belos, não só no estereotipo, que parecem transar bem e endeusar qualquer mulher que se atreva a um beijo sagrado. Então a ordem natural das coisas faz com que você os deseje, queira prova-los para ver qual é. Por mais que seja interessante conversar uma hora você pensa em sexo. E tenha certeza disso: bem que eu não queria pensar em sexo, mas aí de repente me vejo imaginando o professor nu em um quarto comigo! Imagino o corpo, as silhuetas e as palavras que ele diz para turma, eu ouço no meu ouvido, podia ate sentir sua boca molhada não só na minha boca. Como isso poderia ocorrer, como pude pensar de forma tão repentina em sexo? Os desejos a gente não controla. E olha que eu nem sinto muita falta. (de desejar alguém).
Então como as mulheres se insinuam para os homens, como elas avisam: “olha, eu estou no cio, por favor, você poderia baixar as calças e saciar-me por meia hora...” é obvio que não é assim. Então qual é o segredo dos amantes?
Acabamos indo para o quarto mais uma noite para dormirmos pensando o quanto seria legal ter aquele pé nos aconchegando.
Imaginei uma nova situação.
Cinderela era pobre, camponesa, enteada de uma madrasta má, conhece o príncipe por acaso e vivendo um sonho vai para o baile, deixa a sapatilha à meia-noite e o príncipe busca por todo o povoado aquela sapatilha brilhante.
Qual seria a Cinderela do séc. XXI? Foi isso que imaginei.
Uma menina, solitária em suas idéias, considerada estranha, cujos pais são repressores, mesmo que estejamos em pleno séc. XXI sabemos muito bem que pais assim estão em extinção, entretanto os que têm são os piores. Desde pequena relegada ao papel de empregada, sempre tendo sonhos estranhos, como destruindo todas as pessoas que não gostava. Quando descobriu a musica do Radiohead, as lindas frases do Kafka, Dostoievski e um chamado de Nietzche, ela percebeu que não estava sozinha, que escritores como esses tinham muitos e estava apenas conhecendo os mais famosos, até porque por mais que você não tenha acesso a coisas que não sejam da moda vai aparecer um Kafka na biblioteca de sua escola brilhando e com um letreiro: “leia-me!” Interessou-se por política, filosofia, rock’n’roll. Seus pais achavam estranho, mas a menina lia, sinal de inteligência, a menina não saia de casa, sinal de segurança. Como sair de um calabouço como esse... O príncipe.
Uma noite, tinha especifica, de sete e 20 até às 9h. Era de historia. O ano mal começara e a aula era sobre a pré-história do homem. Que tem uma teoria de que o homem só tinha relações sexuais com a mulher de quatro e um belo dia uma mulher se recusou a fazer de quatro. Foram tantos dias de luta, contudo a força do homem conseguiu tomar a mulher, mas desta vez, a primeira vez, a posição feita foi papai e mamãe. O olhar, o profundo olhar entre duas pessoas que estão unidas pela a união de um pau e de uma boceta fez surgir o caralho do amor. A civilização, a instituição do casamento e o fim do incesto.



As aulas estavam-na sufocando. A aula terminando. Saindo de casa percebeu que tinha cinco reais e que poderia tomar uma cerveja, por que não? Nunca fizera isso. Sentada, sozinha, apareceu um homem, era seu professor de português. Ela sempre calada aceitou submissa ele sentando na cadeira, seu dia já não seria como o dos outros, primeiro porque bebera uma cerveja e segundo seu professor a olhava, a desejava, podia perceber isso e sorria.
Posso vê-la, com o caderno no colo, sorrindo para o professor, os dois bebendo calados a cerveja, um olhando ao outro. Ajeita o cabelo, num sinal de delicada vaidade, pois passara o dia no colégio devia estar um caco. Então, como uma estrela cadente caindo no céu, como um gol sendo marcado nos 47 do segundo tempo, ele ajeita o cabelo dela, lentamente porem tão rápido que a única reação dela foi continuar sorrindo.
Pausa.
Qual é o segredo dos amantes?
Quando já era dez horas, ele pagou a conta, ela reagiu, protestou, disse que pagaria uma. Como era a primeira vez que ela falava o professor apenas sorriu aceitou e pegou a bolsa da menina. Esta o seguiu até o trajeto do apartamento dele. A moça também morava perto. Os dois lembraram que já tinham se encontrado por acaso em algumas situações.
Subiram o elevador olhando para o teto e para o espelho e para o chão.
A menina entrou no apartamento vendo o mundo de livros que ele tinha paredes completas de livros, coloridos, negros, grossos e de poesia. Apenas um divã. O professor tirou a blusa e colocou sobre a cadeira. Ela colocava as coisas sobre uma mesa, quando teve um “insight”. Por que não reagir de outra forma?
O abraçou e o beijou, tirou a blusa e na cama no quarto no divã ele recitou dos poemas mais lindos no ouvido na barriga no Vênus. Endeusava a pequena menina, como um sacerdote em um ritual à sua deusa. Tocava seu corpo com firmeza e sutil toque de calafrios. Cada curva era um descobrimento, afinal ele só a via de farda.
Meia-noite. Ele dorme. Ela deixa o seu telefone e se vai.

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