quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Je suis índio

Je suis índio


(o título é uma declaração de independência a essa vida tomada como NORMAL em que as pessoas não têm mais tempo para nada, literalmente isso, do tipo esse esquema de vida pautada no trabalho e produção coisificada de afetos e pessoas…, ou como diria no ceará: ai dentro).


Trilha sonora: Melancolie


O texto de hoje é uma defesa da preguiça (ou do não trabalho tecnocrata: dependendo de uma aprovação real-visceralista com carimbo cafcaniano). Uma defesa da não-rotina com um cotidiano, explico:


Parei de tomar anticoncepcional há uns meses, tomava fazia dez anos. As mudanças foram grosseiras e intensas… Passei por muitas situações de conflito corporal - e falar de assunto feminino sempre cai na chacota, quanto mais com prétensão filosófica - falar de tpm, depressão e outros fatores tão egocentricos por vezes…


Mas tenho uma disciplina espartana cearense e, a isso agradeço imensamente a criação de minha terra e minha família, todo dia é um dia em que acordo com a surpresa da existência e me convenço [con - vencer (vencer junto) alteridade do gozo] que a ginástica chinesa e o alongamento vão me dar o argumento necessário para ir até a feira e comprar os alimentos pra o suco verde que me convence mais ainda a gostar-gozar daquilo - que todos (os racionalistas, os tecnocratas, os erroristas e os bruxos) concordam como saudável.


Como Moebius (no Jardim de Edena) falamos de alimentação com o toque fantástico do não saber sabendo, do não fazer fazendo, do ser preguiça existindo, ser preguiça engajado, ser preguiça engajado, primeiro porque meu corpo está sangrando agora - e o real chama, raísa vá ao supermercado comprar o modis - enquanto sangro penso, penso enquanto sangro.


isso meu brasil, é a porra da questão mundo sensível e mundo inteligível. enquanto sangro é meu corpo egoísta querendo se mostrar e acarinhar tal como chokito, a sonhar com sua realização pessoal (única e singular), mas do que queremos mesmo? senão a questão da alteridade? outra burocracia para entender? mais uma para aplicar? pode juiz sonhar com o universal? - um verso?


o mundo inteligível é restrito - em geral quem tem é carregado de preconceitos, noias, vis, o mundo inteligível carrega a história, que carrega a culpa, que carrega…


por que não pensar então que uma menstruação provoca tudo isso sem cair na chacota? (meu discurso tentando fazer um rodeio)


ser preguiça engajado foi um discurso criado para falar sobre como é foda cuidar do corpo (ainda mais sangrando) sem cair na zoeira de ser zoado por ser - duas ontologias de aceitação ao coletivo: ser zoado pra ser aceito e ser livre preso ao que o corpo existe. 

ontologia da zoeira (never end) e ontologia da liberdade limitada (alimentação, cama, privada, público, superação da culpa cristã, libertação do trabalho)


ou seja, quero tratar dos temas da casa, da cama, da roupa e do banho, como também dos temas universais, de direito, de jurisprudência, de organização civil e subjetividade coletiva, Suely Rolnik.


sejamos índios para não admitir se encerrar em um território único, limpo, neutro, que possamos viver segundo nossas próprias ficções (limitados ao cuidado do corpo e do outro).

esse texto é uma resposta a ansiedade que se finda em meu corpo, impossível de não comentar em um post como é revolucionário o passar dos anos e apreensão do tempo mais calmo, mais escuta (escuta de si, cuidado de si). Encontros que se realizam nesse texto.
o fato é: viver é - dificil é uma maneira de enxergar, fácil também. Tranquilo também.


A intensidade eu demonstro à Kurosawa, numa exigência de sabedoria milenar errorista da vida.


Me dá gozo escrever um texto com pré-tensão filosófica menstrual.


(Sem fim)

Um comentário:

Anônimo disse...

sangro.com