sábado, 20 de setembro de 2014

opao francês


Confissão dos caminhos / das profissões

Rua Barata Ribeiro - Rua Toneleiro

A caminho do Hostel eu penso

E durante trabalho escrevo 


Saio de casa por volta das 15:30, depois do alongamento, comer e fumar, sentir vontade de não ir, agraciar a chokito em mais um instante de eternidade felina, depois ir com um fone de ouvido que me irrita, sem grana e sem paciencia para comprar um melhor.

Um pouco depois chego na estação cardeal arco verde onde começa a caminhada sinestésica: escutando um som vou divagando das coisas que tenho que resolver, dos delirios solitários em programas de televisão imaginários onde respondo a toda nação coxinha com um grito coerente e sensato de voz.

chega o momento em que agradeço essa existencia e conseguir passar por aquilo que considero uma irritação - ou um impasse - me refugio (me gentrifico) em copacabana a sonhar por aquele encontro de amor com amor. el horror de vivir seguiendo como diz Borges em seu poema el almenazado. ai paro, respiro e escrevo um pouco mais: o nosso pão de cada dia, que nos faz levantar da cama, saciar o estômago e dar gás a uma predisposição de resolver os impasses políticos - a distância, os skypes curtos a ânsia de encontrá-lo tudo isso faz com que eu pense no pão francês e as palavras vão tirando o sentido daquele pensar que é quase um mito, uma canção, uma reza para que eu continue sorrindo com a tranquila chinesa que há em mim. chega o momento que admito que o eu precisa do outro pra não temer a si mesmo, pra não se perder dentro de seu mundo individual de desejos e de desejos de construção solitária, de como o mundo é quando é nossa criação de gostosuras, o que mais te agrada? sabemos que a profissão é um casamento que se escolhe por amor ou por dinheiro, sabemos que o amor as vezes se escolhe por mundo que se assemelha ou por amor que mesmo distante é um amor que não encontraremos no mesmo solo, na mesma padaria.
acaso me enxergue como uma romântica, saiba que não é disso que estou falando: o amor é para além de dois.o amor é um universo, uma realidade, uma cartografia, um conjunto de libações que dão significado a existencia, são listas teóricas e técnicas de como nos agradamos segundo a segundo, de como nos ocupamos em pensamentos egoístas daquele segredo especial da culinária de dar um fervo frevo, daquele suor de recife carnavalesco. antropofagia piratesca, chame de xamã ou de vampira, aqui o amor é comida. não me coisifique em seu imaginário sem magia.

a essa altura já imaginei mil vezes infinitas o beijo do meu pão francês e de novo o meu não é possessivo, é singular, é aquele.

chego na siqueira campos, a cena se repete relaxo os passos apressados, repenso o cronograma de trabalho, as outras técnicas, os outros afazeres acadêmicos, da vida, da ginástica, do alongamento, depois relaxo, sonho com o beijo dele no inverno europeu, beijo, beijo, beijo, a essa altura enquanto atravesso o verde florestal de copacabana, vejo o cristo e rezo em rock'n'roll que essa caminhada não termine num atropelamento (meus medos).

atravesso a grande arvore onde em geral sempre tem um trabalho.

e como um olhar de cinema, mais uma vez como quase todo dia, olho para o mural de direitos humanos, as imagens que me lembram e lembram uma história - e hoje pensando no pão francês, vi aquela palavra que tanto imaginário desperta: Paris.

escrita das profissões: escuta do ordinário, do medíocre, do feminino, das multiplas vozes tecnicas da vida, da mulher com cara de cigana cheia de fricote que me irrita por desejar em mim a solução dos seus problemas malandrescos, aprendo que é com ela que devo desejar mais carinho, sendo assim uma espécie de trabalhador-amigo.

atravesso mais uma rua que me lembra verde, olho os singulares que se diferenciam com o passar dos dias, mais uma vez respiro - a melhor das fases é o agora, mas ainda quero mudar mais, mudar mais, ainda me descontento. (e se eu enumerasse os porquês do descontento veriam que não passa de outras realidades ordinárias, que mesmo o afeto público não pode empreender, não se pode criar politicas sociais de diminuição da carência, ou melhor, não se pode criar bolsa-carinho) este afeto público do qual tanto reclamo estar carente é de um lugar coletivo onde se possa ser livre sem a estupidez humana - rio com nietzsche sobre essas impossibilidades teóricas que nascem de tanto solitarizar-se, desço da montanha com zaratustra.


sim, estou carente de um pão francês e descubro no amor um jeito de caminhar todo dia a mesma rotina - que me irrita por conviver e confrentar  com a mediocridade humana-existencial: o fazer, o repetir, o esperar o tempo passar para sair do enclausuramento de escritório. escrevo.




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