domingo, 7 de setembro de 2014

Carta visível a Fabi Borges



São várias as razões para te escrever nesse momento 2014:


A primeira é de que vc tá longe, piruando pelos mares, latino-america, e em saudade nós sabemos lidar com cartas e escritas de volta, de retorno, de saudade, saudade do que queremos também para o nosso mundo. sim.


Esses dias li num livro esboço de uma teoria da magia de Marcel Mauss que conta sobre o que verdadeiramente quer um feiticeiro, ora, o que ele quer é controlar a realidade.


e o que é controlar a realidade? senão o tempo, os desejos, os sonhos, as vésperas, os amanhãs, quer controlar o sonho, a comunicação com os animais, com o que é vivo, o que mata, o que sacrifica, ele quer entrar em contato e produzir sua própria subjetividade.


pois bem, não me prolongo nisso porque sei q tu saca, a magia é pro coletivo, mas é essencial que o feiticeiro lide consigo mesmo e sua alteridade (que implica identidade e diferença, erro, ética, falha, memoria e esquecimento), que quem produz a sua própria realidade tenha noção da dimensão política de suas ações.


a catarse que mais conheço (re) conheço é através da dança e/ou do sexo. o ritual de conexão com o mistério e o cosmos é dado nos hábitos in explicáveis, tão necessários como comer, dormir e se banhar (a efeito de cura, proteção ou embelezamento).


tudo isso vou desenvolver no texto pro tecnoxamanismo, mas aqui ressalto que minha rotina tem sido ritualística para não enlouquecer perante o período e contexto em que vivemos.


e para não esquecer escrevo, escrevo como quem localiza, olha isso aqui : tá rolando essa parada.


Depois que terminei com o Leo passei um tempo sem ligar e nem me importar com sexo, finalmente estava sozinha, podia testar a plenitude do só. passaram-se alguns meses e continuo sozinha (mesmo que agora por outra razão: estou apaixonada por um pirata bretão com rosto de turco,PE) e ele tá lá do outro lado do oceano atlântico.


sozinha. morando com a stella em copacabana.


não posso negar que tenho me alimentado bem, feito a ginastica chinesa e andado de patins, to bem gostosa (hehe), sou assediada, é real o quanto a imagem da gostosa tem um poder (mesmo que pra ser objeto sexual). meu ego anda experimentando esses açoites egóicos de adulamento, tudo para o gozo, não sei, um dia desses um baiano ficou me cantando enumerando porque eu era pra casar: me vestia bem, falava francês… uma coisa sem noção (essa é a noite carioca: bajulação para deitar em camas desconhecidas), disse não. mesmo na seca disse não, mesmo achando ele gostoso disse não, foi como uma explosão conseguir dizer não pra sua seca.


morena, nordestina, morando em copa, (trabalho agora num hostel e faço outros bicos pra juntar uma grana), tudo ok? se eu fosse egoísta e egolatra, sim, seria o mundo dos superficiais que só gozam de sua plenitude corporal.


não gata, eu não consigo ceder a esse assédio que dá um falso poder de dominância.


eu quero ser dómina, mas sendo (l’étant / ousia) considerada. o que é ser considerada? ser levada a sério, politicamente. nem que pra isso eu faça da política um instrumento pra me ensaiar como objeto de desejo - as vezes, em conversas politicas, me sinto mais notada pela beleza do que pela ideia que transmito, sou mesmo só um corpo belo e perecível?


admitir que a beleza pode levar ao carisma político? quem sabe não é isso? seduzir com a perenidade do tempo por um mundo mais revolucionário…


quem sabe uma gostosa pensa além da propria buceta?


é foda, vc vê os boys da praia não conhecem nem a história do futebol… é de uma estupidez… quanto mais saber o mínimo: me encarar como ser humano, não a porra de uma buceta que brilha em letreiro ELA É DE COMER.


conto de novo a historia, foi assim:


na praia pedi pra dar um dois com dois boys - um de olho verde branco e outro negro de olho castanho - ok, conversamos eu tentei criar uma conexão não rolou


tentei fazer uma conexão e simplesmente eles não conseguiram porque eu era gostosa.


daí ele pergunta: vc é hippie?


eu ri gostoso ne? 25 anos e ainda sou hippie, tá no caminho…


percebi minha perna cabeluda e entendi.


e o jeito tropicalista caetaneando etc - uma coisa presente até na zona sul - mas que aparta com todos os outros, parece que nos estrangeiramos em hippies, quando eu como qualquer outro tenho os antepassados e uma outra cultura brasileira (mas antes a primeira interpretação é de que sou hippie).


dei um tchibum na praia, quando voltei escutei dos dois: é, realmente ela é gostosa.


duas coisas: o ego ficou levantado, mas é serio que as mulheres se sujeitam toda uma rede de operações pra ficar bonita pra escutar isso? depila, pinta, corta, estica, puxa, acrescenta, se deprime, fica gorda, pra isso?


e olha q to peluda! imagina se eu quisesse mesmo me transformar em objeto sexual - até dá vontade, mas só se fosse por uma razão política.


e já tem um tempo que tenho ficado agoniada com a situação erótica, no fundo o campo mais difícil de lidar no ativismo é justamente onde a gente apaga a consciencia, onde a gente se deixa levar feito animal, é aí que vc tolera uns tipos de babaquice só pra curar a seca.


(sem falar que em um milhão de situações não fui levada a sério por ser sensual, até parece que o erotismo aliena, o que aliena é agir sem pensar, pensar sensualmente é só um jeito estético de fazer a coisa, com gozo porra).


decidi que agora quero brincar com a minha carência e que não vou me permitir me tornar objeto sexual (como tantas vezes a gente se torna por causa de uma pica gostosa, admito) porra carencia, o que vc nao faz no meu animal sedento de gala… é fato que meu coração piratesco tá bem guardado em uma ilha 10.000km distante. só que nao suporto essa pressão social que se vc quer dar vc tem que depilar. só não suporto essa seca que busca homens interessantes que saibam comer como se fossem amigos, mesmo que saibamos que no fundo só queremos putaria, não nos tratemos como objetos coisificaveis, comiveis, ou melhor, que se coma, que se coma gostoso, mas não me trate como se eu não soubesse pensar porque dou de quatro.


é aí que a gente se submete para ser igual a um tipo estético que aparentemente os homens desejam.


a perna cabeluda lembra aos homens que são machistas (quase todos) que nós somos animais, ao nos depilarmos transformamos nossas pernas em instrumentos de uma estetica moralizante, que diz que somos seres criados para controlar nossos impulsos, da mesma maneira que tiramos o pêlo, tiramos o devir de ser animal.


e ainda nos colocam sob uma situação de constrangimento, por ser um “assunto íntimo”, do cotidiano, que não tem validade em termos conceituais por ser tão pequeno e “essencial” da civilização humana : artificializarmos nossos hábitos em morais e costumes predominantes (aquele do branco ocidental limpo e neutro, ou, “falso democrata”)


nem comento sobre a hipocrisia porque as vezes nem é isso que vejo, as vezes é mais medo de chegar em territorios inexplorados, medo que domina…


por isso chego ao momento da divagação em que (desejo) e concluo que as mulheres acabam se esforçando mais em politica, em sociedade, é tanto maternalismo (com o ismo de doença) que os homens se tornam umas crianças criadas pra entreter a grande mãe Brasil. sejamos mãe, mas criemos nossos filhos pro mundo, pra não sermos mais crianças, a infantilidade da mídia toma até os ativistas, cadê a tal revolução sexual?,


o que quero dizer é: o futuro cultural do brasil é feminino, isso é explícito quando vemos duas mulheres disputando o segundo turno. é explicíto quando se você vê a imensa maioria de mulheres que graças ao bolsa família sustentaram seus filhos sem o paternalismo machistas e escroto.


ok? o que temos de fazer é tornar esse afeto inteligente e independente do drama, da manipulação, da dissimulação midiática, libertar o afeto pra criar uma maturidade cultural no brasil.


ainda bem que não preciso de pica pra pensar - já foi-se o tempo que eu tinha crises criativas pela falta do sexo, hahahahahaha


sejamos nós essas mulheres que vão reformar politicamente essa porra desse país, (minha megalomania grita), UMA NAÇÃO feminina, uma nova proposta pra civilização humana como mulher (aqui é um atributo que todos nós podemos acolher)


que atributo é esse?


a escolha pelo afeto do agradável, a escolha da dona de casa, a escolha da bicha que se prostitui na esquina, a escolha do marginalizado, a escolha daquele que não é submetido a uma hierarquia de “função” e sim de “afeto”, ou diga-se, com nossa poderosissima afrodite suely rolnik criarmos uma civilização brasileira pautada no afeto e na subjetividade, na atenção e na hospitalidade estrangeiresca do brasileiro. nos libertarmos da tecnocracia que a tudo transforma em objeto e em um preço, para uma civilização que quer viver bem e livre.


oxe, é isso que mais sonho viver bem e livre. o que uma depilação não nos leva em finalizações de carta.


em pleno 2014 ainda temos que conviver com essas questões dadas em pólos - dicotomias, dialéticas, os homens acostumados a encarar sempre como perdedor e vencedor, mais forte e mais fraco, diferente e igual -


decidi que não vou mais trepar com fulanos, me submetendo as vezes a jogos pejorativos, que vou fechar pra balanço. raísa se aventura a se fechar pra balanço pra ver como aguentará essa seca animalesca sem gala, porque as picas que tenho visto são das mais burras e desinteressantes… quando me sinto coisificada pelo outro, já o chamo de burro, porque não sabe o que perde, o meu boquete é muito melhor no guri concretamente político.


neste dia da independencia eu declaro, fecho pra balanço, não trepo assim não, (se eu fosse solteira provavelmente eu me submeteria essa depilação, acreditando mesmo nao estar fazendo tanto), quero que o sexo seja politico, libertário, a vera, e não essa consumação ansiosa de gozo - admito ter esse animal que só comer e se saciar, quem sabe é assim que os deuses se manifestam, sendo animais deixando-se lamber pelo gozo, nós os vivos tornamos os deuses presentes quando nos deixamos levar por essa intuição prazerosa do se perder por aí... - hoje com o  controle desse corpo tigresa não temo, digo não! foda-se a secura, não me submeterei a esses machos...




as dúvidas que restam: o que fazer com essa seca? o que fazer com os machos que nos submetemos pra matar a seca e sabemos ser nesse momento transformações de objeto de desejo, como sair desse objeto de desejo? como ser (ser considerada é um termo pra uma ontologia política, como ser considerado)...


fazemos como a peça grega, uma neo greve dos sexos?
me transformo em voyeur, em skype erótico, em…


ao menos eu admito que prefiro ficar na seca, do que mal-humorada sendo chamada de mal comida.


hahahahahahahahahahaha


no final das contas a praia tava uma delícia e lembrei das nossas saídas.








beijos

raisa

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